Na região amazônica não existe meio termo: ou faz um sol de rachar o coco dos desprevenidos ou chove torrencialmente por horas (eu ia dizer “dias”, mas depois resolvi ser mais comedido) sem parar. É, invariavelmente, verão ou inverno. A primavera e o outono são, de fato, apenas noções vagas.
Essa alternância sazonal entre sol e chuva, pra falar a verdade, não se constitui em nenhuma novidade para um nativo da referida região. Estranho seria se as estações fossem bem definidas. Se isso, por acaso, viesse a acontecer, tudo se alteraria e a vida amazônica se quedaria num caos total.
Nesse momento é estação de chuvas na Amazônia. A água desce do céu em borbotões, percorre caminhos ladeira a baixo e engrossa o curso dos mananciais de água. Os rios tornam-se violentos, arrastando tudo o que encontram pela frente (“menos as margens que o oprimem!”, disse Brecht).
Como água e bola não combinam muito bem, o certo, em se tratando de futebol, é que os campeonatos estaduais na região amazônica fossem realizados lá pela metade do ano. Os gramados estariam sequinhos, o toque de bola dos craques sairia à perfeição e o torcedor voltaria pra casa feliz!
Acontece, porém, que realizar um campeonato estadual na metade do ano configura-se absolutamente impossível. Existe um calendário estipulado pela Confederação Brasileira de Futebol que não dá a mínima para as heterogeneidades regionais. O que vale é o sistema na forma macro. O todo!
Num ano de Copa do Mundo, então, a coisa se complica. Como nada pode acontecer durante a disputa do Mundial, o calendário torna-se ainda mais apertado. A cada federação é dada uma espécie de “janela” para realizar as suas competições. Que tratem de se virar no espaço que lhes é concedido.
Então, diante da impossibilidade de jogar no período mais propício para a prática de esportes ao ar livre, todo mundo tem que atuar mesmo debaixo de chuva. Caso em que, não custa lembrar, partidas que tinham tudo para ser um show de técnica, viram peladas de chutões para qualquer lado.
E tudo isso sem falar (mas já falando) que a pré-temporada das equipes fica completamente comprometida. Não tem planejamento que resista ao inverno amazônico. Apesar das confiáveis previsões meteorológicas, sempre pode sobrevir uma tempestade de uma despretensiosa nuvem passageira.
Enfim, meus caros leitores, a realidade é essa e não parece haver nada de novo no horizonte que vislumbre a possibilidade de um dia o calendário vir a olhar com carinho os certames estaduais da Amazônia. É isso e apenas isso. Que o mundo do futebol regional se prepare para as peladas da estação!