Francisco Dandão
O Acre da década de 1960 praticamente não oferecia opções de distrações e divertimentos aos seus cidadãos, principalmente aqueles na faixa etária da adolescência. Dessa forma, quase todos os jovens se voltavam para o mundo do futebol, levando em conta que os praticantes desse esporte, cuja praça principal era o estádio José de Melo, eram vistos como grandes ídolos.
Essa tendência não foi diferente para o garoto Antônio Asfury da Costa, nascido em Tarauacá, no dia 19 de novembro de 1948, que se mudou com a família para Rio Branco ainda na infância. E já nas primeiras peladas, nos campos periféricos da capital acreana, às vezes descalço e sem camisa, ele demonstrou um trato com a bola de muita técnica e rara sensibilidade.
Logo ele foi “descoberto” pelos olheiros do Rio Branco, um dos times mais tradicionais do Estado. E assim, de uma hora para a outra, se viu convocado pelos dirigentes Ary Rodrigues e Barrinho para fazer um teste no Estrelão. Aprovado, foi incorporado ao time juvenil, no primeiro semestre de 1966, se exibindo ora como lateral-direito, ora como quarto-zagueiro.
Nesse primeiro momento, Asfury ficou pouco tempo no Rio Branco, por conta da obrigação de prestar o serviço militar. Uma vez no Exército (4ª Companhia de Fronteira), ele já foi logo assumindo a titularidade dos juvenis do Grêmio Atlético Sampaio (time dos militares), junto a outros bons jogadores da época, casos de Edson Carneiro, Romeu, Hélio Pinho e Palheta.
Campeão pelo GAS e volta ao Rio Branco
Em 1967, ainda com idade para jogar nos juvenis, Asfury fez parte do elenco campeão estadual pelo Grêmio Atlético Sampaio (GAS). “Eu não era titular, levando-se em conta que havia jogadores experientes no time, mas eu sempre conseguia uma vaguinha, às vezes na lateral, no lugar do Chico Alab, às vezes como quarto-zagueiro, no lugar do Viana”, garantiu Asfury.
Quando encerrou o tempo do serviço militar, Asfury voltou para o Rio Branco. Corria o ano de 1968 e ele estava com 19 anos. Ficou no clube da estrela rubra até 1972. Prazo que deu-lhe a oportunidade de ser campeão estadual mais uma vez, em 1971. “Foi uma época muito boa. Rio Branco, Atlético, Independência e Juventus faziam grandes duelos”, explicou Asfury.
Em 1973, quando o elenco do Rio Branco sofreu uma grande reformulação, Asfury se transferiu para o Internacional, time do bairro do Ipase, vizinho ao bairro José Augusto, onde o craque morava. O Internacional era considerado o melhor entre os clubes chamados “pequenos”. Era o time que mais dava dor de cabeça aos “bichos-papões”.
“Eu fui convidado para jogar no Inter pelo professor Gadelha, que era o presidente naquela primeira metade da década de 1970. O time, apesar de ser tido como pequeno, era enjoado. Tinha muito garoto bom de bola no Saci do Ipase. Eu lembro, por exemplo, do Darlan, do Zezinho Melo, do Norberto, do Duda, do Anazildo, do Peré, do Serjão, do Valtinho…”, afirmou Asfury.
Chuteiras penduradas precocemente
Aos 24 anos, após do campeonato de 1973, em pleno vigor físico e ainda com muita bola para gastar, Asfury pendurou as chuteiras. Entendendo que o futebol era apenas uma atividade de lazer, ele achou que estava na hora de cuidar do futuro. Aí prestou um concurso para ingressar na Polícia Militar do Acre e viajou para frequentar um curso preparatório em Taubaté-SP.
Depois de alguns anos como sargento da Polícia Militar, Asfury se graduou em Economia e foi trabalhar como economista na Universidade Federal do Acre (Ufac), onde permaneceu até se aposentar. Nesse período, ele ainda mostrou a sua classe em times tanto da PM quanto da universidade, em reuniões de amigos e em animados torneios amistosos de final de semana.
Dos seus tempos de futebol “federado” ele guarda muitas lembranças. Dentre elas, a de dois caras: o que lhe dava mais trabalho e o que melhor se entendia com ele. O Elísio, do Juventus, segundo Asfury, era dificílimo de marcar, pela capacidade de drible e pela velocidade. Já o parceiro com o qual ele melhor se entendia em campo era o Serjão, zagueiro do Internacional.
Para concluir, Asfury escalou a seleção dos melhores da sua época: “Zé Augusto; Flávio, Mozarino, Curica e Antônio Maria; Euzébio, Dadão e Hélio Fiesca; Pedro da Burra, Touca e Airton”. Ele não quis opinar no quesito melhor árbitro. Entretanto, não hesitou em apontar os melhores dirigente e técnico, respectivamente Sebastião Alencar e Alício Santos.