Num passado que já vai distante, eu fiz parte de um time de basquete chamado Bagres da Solivetti, criado e mantido por um empresário de nome Luiz, representante no Acre de uma firma italiana denominada Olivetti, que fabricava máquinas de escrever, máquinas de calcular e coisas do gênero.
Tinha muita gente de razoável nível técnico no Bagres da Solivetti, sendo o melhor do grupo o hoje doutor Orlando Sabino, nosso cestinha. Mas, apesar do que eu chamo “razoável nível”, dois problemas sempre rondaram o time: a baixa estatura dos jogadores e o preparo físico um tanto deficiente.
Creio que o maior jogador do nosso time mal chegava a um metro e noventa centímetros. Para “basqueteiros”, caras desse tamanho são baixíssimos, verdadeiros “tampinhas”. Dificilmente vão ganhar qualquer tipo de rebotes, seja no garrafão defensivo, seja no setor mais avançado.
Uma vez, falando nessa deficiência de estatura, fomos jogar um campeonato brasileiro em Boa Vista, Roraima, e parecíamos meninos na frente da seleção amazonense. Os caras praticamente não saíam do chão para dominar as bolas mais altas. Ganharam da gente quase em ritmo de treino.
Já o preparo físico deficiente, aí era outro perrengue. Treinávamos pesado três ou quatro vezes por semana, no Ginásio Álvaro Dantas. Depois de um breve aquecimento, dávamos voltas infindas em torno da quadra. Seguia-se uma sessão de polichinelos e mais algumas dezenas de cangurus.
Aí, pra arrematar a preparação física de cada dia, tínhamos que subir e descer correndo os degraus da arquibancada do ginásio. Depois de tudo isso vinham os exercícios táticos e técnicos. E só no finalzinho do treino é que o nosso técnico, o professor Jairo Alexandre, autorizava a “pelada”.
E com essa carga tão intensa, por que não evoluíamos fisicamente? A explicação pra isso os dirigentes do Bagres jamais descobriram. Mas era muito simples. É que quando o treino era noturno, a gente saía do ginásio direto para um bar na esquina do Estádio José de Melo. E tome geladas!
Aí já viu, né? Um time de basquete cheio de baixinhos e sem preparo físico não podia mesmo se criar. Era praticamente uma surra a cada partida. Até dos bolivianos a gente perdia. No primeiro tempo, ainda com algum “gás”, endurecíamos o jogo. Mas no segundo tempo as coisas desandavam.
Aliás, por falar em bolivianos, eu lembro que um dos poucos jogos que nós ganhamos, contra uma seleção de Rondônia, foi apitado justamente por um patrício. O tal árbitro boliviano roubou tanto a nosso favor que quase apanhou dos rondonienses. Só saiu do ginásio no camburão da polícia. Rsrs.