Barbosa e Testinha: craques que foram injustiçados no futebol

MANOEL FAÇANHA

O goleiro Barbosa e o meia Testinha jogaram em épocas e posições diferentes no futebol brasileiros, mas foram do céu ao inferno em competições distintas e ainda escolhidos, por muitos, como responsáveis pelos fracassos de suas equipes na Copa do Mundo de 1950 e no Campeonato Brasileiro da Série C de 2007, respectivamente. Vai e vem, o pênalti desperdiçado pelo meia Testinha no empate sem gols contra o ABC-RN é lembrado em algumas rodinhas de torcedores acreanos. Muitos, com a memória mais curta ou sem conhecimento histórico da competição, chegam a afirmar, categoricamente, que o pênalti desperdiçado pelo maestro teria sido responsável direto pelo não acesso do Estrelão à disputa da Série B de 2008. Ledo engano, pois, mesmo com a vitória, o clube estrelado somente estaria garantido no octogonal final do torneio daquele ano.

Relembre os fatos

Na Copa do Mundo de 1950, o goleiro vascaíno Barbosa, foi escolhido como o vilão pela imprensa e opinião pública da época pela perda do título, por supostamente ter falhado no segundo e decisivo gol uruguaio, marcado por Ghiggia. A atribuição da culpa ao goleiro é deveras contraditória já que no lance a defesa brasileira como um todo deu espaço de sobra para que o atacante invadisse a área com liberdade para o chute letal, para calar 200 mil vozes no Maracanã, em junho de 1950. 

O goleiro Barbosa não consegue evitar o segundo gol do Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. Fifa/Divulgação

Pouco mais de meio século depois, uma história bem parecida vivida pelo goleiro vascaíno se repetiu no sul da Amazônia, no estádio Arena da Floresta, em Rio Branco-AC. O jogo não era uma final de Copa do Mundo, mas, para o Estrelão, valeria uma vaga no octogonal do Campeonato Brasileiro da Série C de 2007. Porém, um lance, aos 11 minutos do primeiro tempo, continua martelando até hoje na memória dos 15.054 pagantes daquela partida ocorrida num domingo frio (07/10) e sem gols entre Rio Branco-AC e ABC-RN. O lance que a reportagem se refere é penalidade desperdiçada pelo maestro Testinha, à qual a bola beija o poste direito do goleiro abcediano Aloísio e, no rebote, passa sobre o corpo do jogador acreano. Um episódio que muitos analisam de forma injusta, pois não foi somente aquele momento de gol desperdiçado que poderia ter resolvido o jogo a favor do Rio Branco e, consequentemente, classificado o clube à fase seguinte do torneio nacional. Só que grande parte do torcedor e da imprensa, no calor do jogo e, posteriormente, da eliminação concretizada do Estrelão, jogou a responsabilidade para o meia Testinha, esquecendo que o maestro estrelado durante toda a trajetória da competição foi um dos principais atletas do clube, inclusive decidindo jogos importantes.

Rio Branco-AC entrou em campo por uma vitória para avançar na Série C. Foto/Manoel Façanha.
O ABC-RN entrou em campo com um time praticamente de reservas para encarar o Rio Branco-AC. Foto/Manoel Façanha
O maestro Testinha em ação no empate sem gols contra o ABC-RN, no estádio Arena da Floresta. Foto/Manoel Façanha
Veja o lance do pênalti desperdiçado pelo maestro Testinha no empate sem gols contra o ABC-RN, no estádio Arena da Floresta, pela Série C de 2007. Foto/Manoel Façanha
Em nove partidas pela Série C/2007, o Rio Branco levou 52.966 pagantes ao estádio Arena da Floresta. Foto/Manoel Façanha
Em nove partidas pela Série C/2007, o Rio Branco arrecadou R$ 460.586,00. Foto/Manoel Façanha
Em nove partidas pela Série C/2007, o Rio Branco apresentou uma média de público 5.885 torcedores por jogo. Foto/Manoel Façanha

Gol nos acréscimos na Fonte Nova elimina o Estrelão

Com o árbitro goiano Elmo Resende dando por encerrada a partida, as atenções dos jogadores, comissão técnica e torcida acreana cruzaram o país (4.500 km) para acompanhar os minutos finais do duelo entre Bahia e Fast Club-AM. Nos acréscimos, aos 49 minutos, Moré lançou Carlos Alberto, que foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro. Charles bateu forte e tirou o grito de gol da garganta de 8.927 torcedores presentes ao estádio da Fonte Nova, na cidade de Salvador.

O capitão Ico e demais jogadores após a eliminação na Série C 2007. Foto/Manoel Façanha
O técnico João Carlos Cavallo, com a mão esquerda no rosto, lamenta a eliminação na Série C 2007. Foto/Manoel Façanha

Mala branca

Na véspera da partida no Acre, houve rumores de que o Bahia teria oferecido R$ 200 mil para o ABC arrancar ao menos um empate do Rio Branco. Os rumores ganharam força depois que uma emissora de TV mostrou que o diretor financeiro do clube baiano, Marco Costa, foi flagrado na concentração do time potiguar, em Rio Branco-AC, conforme matéria veiculada, na época, pelo Portal Uol (https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas/2007/10/07/ult59u132769.jhtm).

A coluna “Na Marca da Cal” escreveu sobre a eliminação do Rio Branco

Um dia depois do jogo, o jornalista esportivo Manoel Façanha, na sua coluna “Na Marca da Cal”, escreveu:

Não é hora do torcedor estar buscando culpados pela eliminação do Rio Branco para o Octogonal Final do Campeonato Brasileiro da Série C.

Nem Testinha, que perdeu o pênalti, ou tão pouco o treinador João Carlos Cavallo, responsável direto por comandar o time à beira do gramado.

Sabemos da angústia do torcedor pela eliminação, justamente quando a classificação estava tão próxima de acontecer.

Tem dia que a bola não entra. Foi assim com o Rio Branco na partida deste domingo. Ela teimou, teimou e não entrou.

Sinceramente, o gol do Bahia, assinalado nos acréscimos, me lembrou duas derrotas da seleção brasileira em copas do Mundo: 1982 e 2006.

Olha, doeu na alma e continua doendo.

Pra quebrar o gelo o torcedor saiu com essa ontem: “Tinha Pai de Santo, até mesmo torcedor do Vitória-BA, ganhando dinheiro para trabalhar no seu terreiro de umbanda para o EC Bahia”. E tinha mesmo!

O jeito é planejarmos. Não perdermos o foco e continuarmos a sonhar com à Série B.

Não poderia fechar a coluna de hoje sem parabenizar o torcedor que apoiou o Rio Branco no estádio Arena da Floresta. Também, de parabéns, o governador Binho Marques, os patrocinadores do Estrelão, os jogadores, comissão-técnica e a diretoria, juntamente com o presidente Natalino Xavier. E, por fim, a imprensa acreana que soube motivar o torcedor a encher o nosso estádio Arena da Floresta.

Momentos antes da bola rolar, o então governador Binho Marques concede entrevista ao cronista esportivo Paulo Henrique Nascimento. Foto/Manoel Façanha

Fui!

FICHA TÉCNICA

Rio Branco-AC 0 x 0 ABC-RN

Local: Estádio Arena da Floresta

Data: 07/10/2007 (domingo)

Árbitro: Elmo Resende (GO)

Assistentes: Moacir Osterne e Evanildo da Costa (RO)

Renda R$ 141.200.00

Horário: 16 horas

Público: 15.054

Renda: R$ 141.200,00

Rio Branco-AC: Marcos Vinicius, Ley, Igor, Rodolfo e Esquerdinha (Garanha). Zé Marco (Doka), Ismael, Neném e Testinha; Juliano (Rozier) e Marcelo Brás. Técnico: João Carlos Cavallo

ABC-RN: Aloísio, Pêu, Fabiano, Panda e Dênis; Joassis, Wellington, Éder (Miro Bahia) e Marciano; Rodriguinho (Alisson) e Clênio (Ivan). Técnico: Ferdinando Teixeira.