Batedores

Por esses dias ando a me deliciar com a leitura do livro “Minha bola, minha vida”, biografia do maior lateral-esquerdo do futebol brasileiro, Nilton Santos. O sujeito jogava tanto que depois de ajudar o Brasil a ganhar duas Copas do Mundo (1958 e 1962) ganhou o apelido de Enciclopédia!

Sem maiores pretensões literárias, o livro conta de forma linear a vida do cracaço, falecido aos 88 anos, no dia 27 de novembro de 2013, desde que ele começou a jogar peladas na Ilha do Governador, bairro do Rio de Janeiro, onde nasceu e passou a infância, até pendurar as chuteiras, no ano de 1965.

São muitas as passagens curiosas narradas no livro, principalmente aquelas envolvendo o gênio Garrincha, companheiro de Nilton Santos por muitos anos, tanto na seleção quanto no Botafogo. Nilton Santos, aliás, atuou como uma espécie de conselheiro do Garrincha em várias situações.

De acordo com a narrativa, foi o próprio Nilton Santos quem sugeriu aos cartolas botafoguenses a contratação do Garrincha. Isso depois de tentar marcar o “homem das pernas tortas” em um treino e não conseguir sequer saber por qual lugar ele (Garrincha) passava ou, pelo menos, ver a bola.

Diabruras e peraltices do Garrincha à parte, porém, que estas nós já estamos cansados de saber, outra coisa que chamou a minha atenção no livro foi uma lista feita por Nilton Santos dos zagueiros mais violentos que ele viu jogar no futebol brasileiro. Gente que só jogava no corpo do adversário.

Segundo o Nilton, teve um ano que o Flamengo foi campeão carioca não pelos gols que fez, mas pelos que não levava. É que os atacantes tinham medo de entrar na área do rubro-negro e topar pela frente com um trio de zagueiros formado por Tomires, Pavão e Jadir. Todos batiam com vontade!

Uma criatura que não tinha medo era o Garrincha. E não tinha medo porque era difícil um batedor desses acertá-lo. O marcador dele, via de regra, não sabia o que fazer. Se fosse de forma brusca, tomava o drible. Se ficasse cercando, pra ir só na boa, não conseguia saber pra que lado ele iria sair.

Conta-se, inclusive, que um grande estímulo para o Garrincha jogar mais do que de costume, era dizer-lhe antes do jogo que o lateral encarregado de o marcar havia espalhado na véspera que iria pará-lo de qualquer maneira, nem que precisasse “baixar a porrada”. Isso e umas doses de cana ajudava!

Num jogo amistoso no Acre, entre Rio Branco e Juventus, as crônicas explicam que foi isso mesmo o que aconteceu. Vestindo a camisa do Juventus, o Garrincha ficou sabendo que o lateral do Rio Branco ia quebrá-lo no primeiro lance. Adivinhem: o lateral batedor até hoje procura o gênio!