Atualmente, aposentado, Benevides lembra com saudade o tempo do futebol amador do Acre. Foto/Francisco Pinheiro

Benevides: talentoso goleiro estreou como titular do Rio Branco aos 16 anos

FRANCISCO DANDÃO

Foram apenas três os clubes “federados” pelos quais Antônio José Benevides jogou no futebol acreano, entre os anos de 1964 e 1974: Rio Branco, Juventus e Vasco da Gama. Além destes, ele defendeu também o gol de dois times suburbanos: o Botafogo e o Marreta. Em todos, ele deixou uma opinião unânime: a de goleiro de técnica e reflexo incomuns.

Rio Branco – 1966. Em pé, da esquerda para a direita: Tião, Lustosa, Nabor, Benevides, Escurinho, Pedro Pereira e Zé Palito. Agachados: Dadão, Hélio Amaral, Jangito, Dadinho e Madureira. Acervo Benevides.

Tudo começou quando Benevides foi estudar em Niterói, no Colégio Salesiano Santa Rosa, em 1963, aos 15 anos. Chegando lá, depois de algumas peladas, ele assumiu a camisa número 1 do time de futebol de salão da escola. A bola pesada, o espaço exíguo da quadra e a rapidez do jogo começaram a lapidar a joia rara em que ele rapidamente se tornaria.

Ao voltar para o Acre, no final do mesmo ano de 1963, Benevides foi convidado para jogar no Botafogo. Apesar de suburbano, o time alinhava feras da época, como o meio campo Tião Lustosa e o atacante Madureira. Pode-se dizer que, apesar de ainda adolescente, Benevides já jogava no meio de gente grande. Jogava e se destacava como “muralha”.

Marreta – 1967. Em pé, da esquerda para a direita: Lopes, Lourival Pinho, Goes e Castro, Rosimar, Bibi, Benevides, Edmilson Jansen, Hélio Pinho e Mário. Agachados: Otacílio, Costa, João Carneiro, Ernane Petroleiro, Sérgio Beirute e Pedro Louro. A. BENEVIDES/ACERVO
Juventus – 1968. Em pé, da esquerda para a direita: Aníbal Tinoco, Ernesto Santos, Elias Mansour, Rômulo, Zezé Gouveia, Joaquim Cruz, Deca, Nilton Santos, Benevides, Escurinho, Altir, Pope, Nilson e João Carneiro. Agachados: Carlos Mendes, Dadão, Eloí, Airton, Nemetala, Airton Rosas e Nostradamus. A. BENEVIDES/ACERVO

No ano seguinte, 1964, estudante do Colégio Acreano, Benevides foi “convocado” pelo dublê de técnico e professor de Educação Física Walter Félix de Souza, o Té, para fazer um teste no Rio Branco. “Precisei de apenas um treino para me incorporar ao elenco. Eu entrei no time no lugar do Raimundinho Chuchu, que foi para o Independência”, disse Benevides.

Um acidente com arma de fogo interrompeu a carreira

Benevides no Juventus, em 1968. A. BENEVIDES/ACERVO

Nascido no Seringal Novo Andirá, no dia 9 de abril de 1948, e vivendo uma infância comum, Benevides contou que nem em sonho ele vislumbrou a possibilidade de se tornar titular do Rio Branco com apenas 16 anos. “Meu negócio com bola era só diversão. Tanto que eu relutei em aceitar a convocação do professor Té para treinar no Rio Branco”, afirmou.

A lua de mel inicial com a bola, porém, não durou muito tempo. Em novembro de 1965, mais ou menos um ano e meio depois de ter vestido pela primeira vez a camisa do Rio Branco, Benevides foi vítima de um acidente. É que ao sair para caçar passarinhos com um grupo de amigos, três dos quais também jogadores de futebol, ele foi atingido por uma bala. “Foi muito azar”, disse Benevides. “Pelos nossos cálculos, a arma não deveria estar carregada. Mas estava. Aí veio o disparo e eu ali, bem na linha de fogo. Por sorte, não pegou em nenhum órgão vital. A gente estava numa mata próxima a uma estrada, nas terras onde hoje é o bairro Sobral. Fui socorrido pelo Bruzugu, que era goleiro do Atlético”, complementou.

O acidente fez com que Benevides parasse durante alguns meses com o futebol, período em que foi morar no Rio de Janeiro. “Fui aconselhado pelo doutor Ary Rodrigues, que era presidente do Rio Branco e foi o médico que me atendeu quando fui baleado, para complementar o meu tratamento de saúde na capital carioca. E assim fiz”, disse o ex-craque.

Treinos nos juvenis do Flamengo

Em 1966, ano do tratamento de saúde no Rio de Janeiro, Benevides ainda teve tempo de vir ao Acre,
no segundo semestre, e defender o Rio Branco naquele que considera o grande jogo da sua vida, contra o Esporte Clube Bahia, que excursionava pelo Norte do Brasil. “Os baianos jogavam demais. Nós perdemos por dois a um. Foi um jogo inesquecível”,
garantiu.

Quando rompeu o ano de 1967, mais uma vez Benevides resolveu morar no Rio de Janeiro. Dessa vez ficou por um semestre. E foi aí que o amigo de um primo o levou para treinar nos juvenis do Flamengo. Isso na mesma época em que estava na Gávea o também goleiro acreano Zé Augusto. Benevides não chegou a jogar. A saudade o fez voltar para casa.

Juventus – 1968. Em pé, da esquerda para a direita: Aníbal Tinoco, Ernesto Santos, Elias Mansour, Rômulo, Zezé Gouveia, Joaquim Cruz, Deca, Nilton Santos, Benevides, Escurinho, Altir, Pope, Nilson e João Carneiro. Agachados: Carlos Mendes, Dadão, Eloí, Airton, Nemetala, Airton Rosas e Nostradamus. A. BENEVIDES/ACERVO
Benevides, no Vasco da Gama, cumprimentado pelo governador Wanderley Dantas, em 1972. A. BENEVIDES/ACERVO

Na volta para o Acre, Benevides foi direto para o Juventus, convidado pelo professor Elias Mansour. Ficou no Clube da Águia até 1971. No ano seguinte, atendendo a um apelo do professor Almada Brito, migrou para o Vasco da Gama, onde ficou até encerrar a carreira, em 1974. Depois disso, ele resolveu cuidar da vida. Foi estudar direito e trabalhar.

Atualmente, aposentado, Benevides lembra com saudade o tempo do futebol amador do Acre e diz não frequentar mais estádios. “No meu tempo o nível técnico era bem melhor do que agora e o José de Melo [estádio] sempre enchia. A última vez que eu fui ao estádio foi em 2010, quando o Juventus foi goleado pelo Atlético Mineiro por sete a zero”, concluiu.