Bola em jogo

Começou a Copa do Mundo da Rússia. A bola rola para 32 nações. Em princípio, todas as seleções tinham as mesmas chances. Mas isso só mesmo em princípio. Quando o árbitro trila o seu apito, autorizando o início de cada contenda, o que a gente vê é uma imensa diferença entre uns e outros.

No momento em que escrevo, perto do meio dia de sexta-feira (15 de junho), duas partidas já foram realizadas. A primeira entre Rússia e Arábia Saudita, justamente o jogo de abertura do torneio, na sempre enigmática Moscou. E a segunda entre o tradicional Uruguai e o emergente Egito.

Em ambos esses confrontos, deu a mais estrita lógica. A Rússia simplesmente atropelou a Arábia Saudita. Meteu cinco gols a zero e poderia ter feito ainda mais, se tivesse acelerado o jogo desde o início. E o Uruguai, apesar de algum sofrimento, fez um a zero nos descendentes de Tutancâmon.

Mas tudo isso que eu disse até aqui, todo mundo já sabe. A janela onipresente da televisão, refletida pela magia dos satélites dispostos em volta da Terra, mostra em tempo real os movimentos dos mais diversos protagonistas, qualquer que seja o espetáculo. Meu sofá, uma arquibancada!

Todo mundo já sabe disso, conforme eu falei no parágrafo anterior. Mas existem muitas coisas que pouca gente sabe (ou percebe). Raros espectadores, por exemplo, notaram num cantinho com pouca luz do Luzhniki Stadium as presenças dos ex-comandantes Stalin, Trotsky e Lênin.

Desde o primeiro momento da Revolução Bolchevique, lá na segunda década do século XX, que esses então líderes prometeram em seus discursos pão, paz e terra aos cidadãos das repúblicas socialistas soviéticas. Não deu muito certo. O que a história registrou foi muito mais sangue do que pão.

Os três citados acabaram se desentendendo. Cada um deles tinha uma ideia de felicidade e desenvolvimento social. Viraram inimigos inconciliáveis. Ao que tudo indica, só voltaram a se reunir além túmulo, nessa metade do ano de 2018, em torno da ideia de torcer pela Rússia amada.

Eles que tratem de se entender daqui pra frente. E que não fiquem emburrados se a mãe Rússia levar alguma pancada feia quando se encontrar com uma das seleções favoritas a conquistar a Copa atual. Afinal, o planeta não aguentaria mais regimes de exceção ou algum tipo de Guerra Fria.

É isso. No mais, preciso confessar que o tema dessa crônica de hoje deveria ser a estreia da seleção brasileira, contra o bem ranqueado time da Suíça. Me danei a falar dos ex-líderes soviéticos e, de repente, vi chegado ao fim o espaço do texto. O meu pensamento digressivo prevaleceu outra vez!