Não é somente o baile e a derrota acachapante da noite da terça-feira (25), sofrida para a Argentina por 4 a 1, em Buenos Aires, em jogo válido pelas Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo/2026, que trouxe novamente à tona o momento ruim vivido pela nossa seleção.
Eu, particularmente, ainda vejo que o 7 a 1 para a Alemanha não é coisa do passado, mas sim, do presente. Os erros cometidos na Copa do Mundo, ocorrida em nosso país em 2014, seguem ainda sangrando a nossa seleção e com relampejo de amadorismo presentes e isso tem prejudicado e muito há alguns anos pela briga interna pelo poder político/econômico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), associada a algumas decisões equivocadas do presidente Ednaldo Rodrigues, que chegou a “namorar” por quase um ano a contratação do técnico italiano Carlo Ancelotti para comandar o time brasileiro (o italiano, esperto, driblou Ednaldo Rodrigues e renovou contrato com o Real Madrid), mas teve que se contentar com Ramon Menezes e Fernando Diniz, antes de efetivar o técnico “pacifista” Dorival Júnior.
O certo é que isso tudo, além de outras questões internas do país (polarização política e alguns problemas sociais), associada a falta de uma identidade mais positiva de nossos atletas para com a seleção e o seu torcedor, tem muito contribuído para distanciar o povão do time canarinho. Lembro-me que, há décadas, antes do Brasil entrar em campo, seja para disputar um jogo amistoso ou uma partida oficial, existia certa ansiedade do torcedor brasileiro e o papo preferido sempre era a respeito daquela partida, seja nos corredores das empresas, das escolas ou ainda nas mesas de bares/restaurantes.
E o torcedor pode estar questionando o que levou a esse desinteresse do brasileiro pela nossa seleção. Bem, eu acredito que vários motivos. Um deles é a ausência de uma identidade mais forte dos nossos atletas com os clubes e as torcidas locais, fato esse relacionado ao futebol globalizado, pois boa parte desses nossos atletas estão migrando para clubes das grandes ligas europeias ainda no início de carreira e ganhando fortunas. Outro aspecto não menos importante é a forma como esses jogadores atuam em seus clubes europeus (sistemas táticos cada vez mais disciplinados e voltados para uma ação coletiva da proposta de jogo que, e muito, contribui para o futebol arte de nossos jogadores perderem espaço). E, além disso tudo, ainda tem o fato de treinar a equipe brasileira em curto espaço de tempo e com um treinador que me parece um pouco ultrapassado para a velocidade de esquemas e variações táticas inseridas no futebol mundial. Mas, antes que eu me esqueça, falta mesmo a seleção brasileira é craques de futebol (nós brasileiros fomos acostumados com nossa seleção fazendo apresentações espetaculares, propondo o jogo e amedrontando o adversário na sua defensiva, mas a realidade hoje é inversa, onde passamos da figura de caçador para a de presa). E, lembrando ainda, que o último grande craque brasileiro (aquele que faz a diferença numa partida, com gols belíssimos, assistências espetaculares e que chama a responsabilidade do jogo para si, ainda atende pelo nome de Neymar Júnior, lesionado).
Com grandes chances de carimbar vaga para a Copa do Mundo de 2026 (EUA, Canadá e México), a seleção brasileira, hoje quarta colocada na classificação das Eliminatórias Sul-Americanas, terá pouco menos de 1 ano e meio para buscar resgatar o seu verdadeiro futebol e chegar ao mundial como uma das favoritas. Caso contrário, a persistência desse desinteresse do torcedor pela seleção canarinho poderá afugentar em médio ou longo prazo dividendos financeiros à própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aos clubes brasileiros. Nesta linha de raciocínio eu quero dizer ainda que poderemos ainda ter uma Copa do Mundo “esvaziada” nas avenidas, bares/restaurante em milhares de lares brasileiros. Com isso, cairá o consumo de seus produtos como a venda de bebidas, carne de churrasco, camisas, confetes, entre outros). Ou seja: se a seleção brasileira não melhorar das pernas, será um verdadeiro baque para alguns setores da nossa economia durante a próxima Copa do Mundo. Toc, toc, toc