Bruxas à solta

Eu já disse uma boa dúzia de vezes em crônicas antigas que não sou dado a acreditar na ação de bruxas de nenhuma espécie, principalmente do tipo das que espalham maus fluidos pelo ar ou cascas de banana nas calçadas. Rainhas más, por esse olhar, só mesmo aquelas dos contos de fadas.

Mas eu também já disse na mesma proporção da dúzia de vezes que, por via das dúvidas, não deixo jamais de bater triplamente na madeira cada vez que alguém por perto se dana a vaticinar algum tipo de mau agouro. Bato na madeira e ensaio o sinal da cruz, além de fazer figa com as duas mãos.

Agorinha mesmo, quando estive no Rio de Janeiro na virada do ano, tratei de me vestir de branco dos pés à cabeça e pular as minhas sete ondinhas, bem na hora em que os barcos ao largo do mar de Copacabana começaram a mandar para o vento figuras multicoloridas e ensurdecedoras.

O Gilberto Gil mal acabou de afirmar a sua decisão de andar com fé, que ela não é coisa que costume falhar, lá no palco armado em frente ao Copacabana Palace, e eu já estava com o “pisante” na mão dando pinotes dentro d’água, ao lado de uma carioca com um fio dental pra lá de revelador.

Só festa! Se houve estampido de arma de fogo, eu não ouvi. Se houve gente ferida ou assaltada, eu não vi. Quer dizer, até ouvi e vi sim. Mas apenas no dia seguinte nas matérias dos jornais e nos noticiários da televisão. Eu, o celular e a carteira com alguns reais voltamos incólumes para o hotel.

No retorno pra casa, em Fortaleza, cidade que vive dias de terror, com todo tipo de barbaridade nas vias públicas, por conta da ação da bandidagem, tratei de sair do avião com o pé direito (a cueca, essa já estava pelo avesso desde muito cedo, quando eu me vesti para enfrentar as devidas conexões).

Imagino que são esses cuidados que tem feito com que eu me livre das armadilhas que espreitam em cada esquina nesse tempo de tanta bala perdida, ônibus incendiado, arrastão e outras ações assemelhadas. Um drible aqui, um golpe de vista ali… E segue-se o jogo que a vida é sempre pra valer…

Independente, porém, das minhas superstições ou convicções, o certo é que a bruxa parece estar mesmo solta nesse início de ano. Nunca vi tanta confusão. Um mago meu chegado disse-me que os planetas estão totalmente desalinhados. Tudo porque os chineses chegaram ao lado escuro da lua.

É isso, meus prezados leitores. Que venha o futebol nosso de cada dia, pra que a gente possa soltar o grito de gol e, se possível, dividir um tanto das notícias da barbárie com a alegria da vitória dos nossos times do coração. O Flu vai ser campeão do mundo. Eu li numa estrela. Ela só não disse quando!