Ex-volante Cairara em foto recente. Foto/Manoel Façanha

Cairara – Volante guerreiro e vencedor dentro e fora dos gramados

Francisco Dandão

Nascido no dia 2 de abril de 1973, em Rio Branco, ainda na infância o cidadão Sergio Roberto Pinto Veras passou a ser denominado Cairarinha, seguindo o apelido do pai, o Cairara. Nem nas primeiras peladas, atrás do campo da Fazendinha, alguém o chamava pelo nome. Aí ele cresceu e o diminutivo ficou para trás, virando para o futebol acreano o volante Cairara.

Antes de se fixar como volante, Cairara jogava de ponteiro-direito. Foi nessa posição que ele chamou a atenção num jogo do seu time, o Recriança, contra o Juventus, pela categoria infantil, no segundo semestre de 1984. O Recriança venceu aquele jogo por onze a zero e Cairara foi convidado pelo técnico Barroso a ficar no Clube da Águia. Ele se mudou na mesma hora.

Mas a passagem pelo Juventus não demoraria muito. Algumas semanas depois de aceitar o convite, Cairara, ainda criança, foi convocado para completar o time de juniores num treino contra o time principal. Lá pelas tantas, numa disputa com o zagueiro Lécio, ele lesionou gravemente o joelho. Vieram meses sem jogar e, segundo Cairara, abandonado pelo clube.

Quando se recuperou, Cairara foi para o infanto-juvenil do Vasco, onde permaneceu até 1988. No ano seguinte, convidado pelo zagueiro Ozimar e pelo lateral Armed, seus amigos de adolescência, ele migrou para os juniores do Independência. “Foi a realização de um sonho, porque eu e o meu pai éramos torcedores do Tricolor do Marinho Monte,” disse Cairara.

Infanto-juvenil do Vasco da Gama – 1988. Da esquerda para a direita: Dedé, Jean Caruta, Zezé, Cairara e Marcos. Foto/Acervo Sérgio Cairara.

A estreia no time principal do Independência

Cairara foi escalado pela primeira vez no time principal do Independência aos 19 anos, em 1993. A estreia foi contra o Atlético. Ele assumiu a lateral-esquerda, substituindo o titular, que passou mal no vestiário, momentos antes da partida. Foi uma prova de fogo, levando-se em conta que o ponteiro adversário, que se chamava Dim, era veloz e driblador.

Independência (juniores) – 1992. Em pé, da esquerda para a direita: Paulão (técnico), Marcelo, Lapiche, Cairara, Fabiano, Assis e Deusimar. Agachados: Bodó, Charles, Roberto, Jean e Pitiú. Foto/Acervo Jean Paulo.

Sobre essa estreia, Cairara contou que foi fundamental o apoio do volante Mário Sales para que ele superasse o nervosismo. “O Mário chegou pra mim, ainda no vestiário, e disse que eu deveria dar um sarrafo no Dim, logo na primeira bola, e depois corresse pra perto dele. Eu fiz e deu o maior rebu. Os caras iam me pegar, mas o Mário me protegeu” falou o ex-volante.

Cairara não virou titular do timaço tricolor, mas o seu futebol chamou a atenção dos demais clubes do Acre. E então, logo em seguida, ele se mudou para o Rio Branco. “Eu amava o Tricolor de Aço, mas a proposta do Estrelão era boa para os padrões regionais. Fiquei de 1994 a 1996 no Rio Branco, depois voltei para o Independência, no ano de 1997”, contou o ex-volante.

Daí até 2003, quando pendurou as chuteiras jogando no Andirá, Cairara defendeu as seguintes camisas: Adesg (1998), Rio Branco (1999 a 2001), Vasco da Gama (Copa Norte e Copa do Brasil de 2000), Andirá (Série C de 2001) e Independência (2002). Ele disse que resolveu parar por se sentir desvalorizado na hora de assinar os contratos e por se envolver com drogas.

Rio Branco – 1994. Em pé, da esquerda para a direita: Klowsbey, Sergio da Matta, Chicão, Walter, Douglas, Cairara, Ico, Jorge Cubu, Carlos, Edmauro e Nino (técnico). Agachados: Dênis, Testinha, Siqueira, Palmiro, Marquinho e Ney. Foto/Acervo Francisco Dandão.
Vasco da Gama – 2000. Em pé, da esquerda para a direita: Mundoca, Cleiton, Cairara,
Siqueira, Jorge e Faísca. Agachados: Anjo, Dilson, Palmiro, Pitiú e César. Foto/Acervo Manoel Façanha
O técnico vascaíno Ulisses Torres orienta seus jogadores e um deles é o volante Cairara. Foto/Acervo Manoel Façanha.
Rio Branco -2000. Em pé, da esquerda para a direita: Romilton, Marcão, Márcio Alemã, Cairara e Odinei. Agachados: Robertinho, Léo, Palmiro, Leli e Sandro Goiano. Foto/Acervo Manoel Façanha.
O volante Cairara (com o troféu em mãos) comemora mais um título com a camisa do Rio Branco na temporada 2000. Foto/Acervo Manoel Façanha.
Rio Branco FC, campeão Estadual de 2000. Em pé: Illimani Suares (técnico), Tidal (prep. de goleiros), Sampaio, Romilton, Marcão, Sandro Goiano, Cairala, Nego, Papelim, Vinícius (prep. físico), Acosta, Sebastião Alencar (presidente) e Natal Xavier (diretor); Sentado: Marinho, João Paulo Quinari, Leli, Mundoca, Ricardinho, Leonardo, Tangará, Jota Maria, Moisés. No chão: Célio (roupeiro), Máximo, Miquinha, Marcelo Cabeção, Palmiro, Odinei, Edilio e Manoel (massagista). Foto: Manoel Façanha.
Rio Branco – Copa João Havelange 2000. Da esquerda para a direita: Sampaio, Sandro Goiano, Ricardinho, Mundoca, Leli, Cairara, Vartúlio, Márcio Alemão, Léo, André e Marcão. Foto/Acervo Manoel Façanha.
Rio Branco – 2001. Em pé, da esquerda para a direita: Cairara,  Jean, Souza, Bertholdo e Sampaio. Agachados: Marquinhos Bombeiro, Ricardinho, Dirceu, João Paulo, Miquinha e Palmiro. Foto/Acervo Manoel Façanha.
O volante Cairara é cercado de perto pela marcação baiana no empate contra o Vitória-BA pela Copa do Brasil-2001. Foto/Acervo Manoel Façanha.
O professor Afonso Alves orienta atividade física no Morcego véspera da estréia na Série C-2001. No fundo da imagem, do lado direito, aparece o volante Cairara. Foto/Acervo Manoel Façanha.
Na temporada 2001, Cairara em ação com a camisa do Andirá diante do Rio Negro-AM pela Série C. Foto/Acervo Manoel Façanha.
Andirá – 2003. Em pé, da esquerda para a direita: Waltemir, Cairara, Máximo, André Louzada, Maxwell e Ezequiel. Agachados: Pelé, Biro-Biro, Tonho Cabañas, De Souza e Robernilson. Foto/Manoel Façanha.

Gols inesquecíveis, aprendizado e período difícil

Jogando como volante de contenção, Cairara não era de marcar muitos gols. Mas ele falou de dois que considera inesquecíveis. O primeiro, num jogo do Rio Branco contra o Juventus. Ele jogava pelo Estrelão e entrou com bola e tudo, depois de cruzamento do Siqueira. O outro, pelos juniores do Independência, contra o Rio Branco, chutando de fora da área, “na gaveta”.

Para além dos gols marcados, Cairara fez questão de exaltar a contribuição do treinador Nino para o sucesso dele enquanto jogador de futebol. “Ele [Nino], que Deus o tenha, me dizia que eu tinha potencial, mas também um grande defeito: errava muitos passes. Aí ele passava horas comigo, me ensinando posicionamento e modos de bater na bola”, contou.

 

 

O volante Cairara durante jogo festivo no Vasco da Gama na temporada 2017. Foto/Manoel Façanha.

Sobre os “perrengues” da vida, Cairara confessou que passou muitas dificuldades por conta de entrar no mundo do álcool e das drogas. “Eu comecei a beber e a me drogar quando ainda era jogador. Vícios que aumentaram com a morte da minha mãe. Hoje estou limpo há seis anos. Falo disso para ajudar as pessoas a não cometerem esse erro”, disse o ex-volante.

A respeito de planos para o futuro, Cairara falou que Deus já deu a vitória dele, só de devolver-lhe a sobriedade e ter a família de volta. “Agora só quero olhar pra frente e, se possível, em algum momento, trabalhar com categorias de base no futebol. Além disso, quero fazer um curso superior, tanto para melhorar minha condição intelectual quanto financeira”, concluiu.

Fac símile do Jornal Opinião do dia 12 de fevereiro 2021.