São insondáveis os caminhos determinados pela deusa bola. Dependendo de vários fatores e pequenas tomadas de decisão, um menino candidato a craque pode ir parar a milhares de quilômetros longe de casa. Pode, também, encontrar um novo lar e jamais voltar à sua cidade natal.
Me peguei pensando nessas coisas por conta de uma entrevista que realizei por esses dias com o professor universitário e ex-craque de futebol José Aparecido Pereira dos Santos, o Nino, que nasceu no interior de São Paulo (Santo Expedito) e veio para o Acre há exatos 38 anos. Um tempão!
A história do Nino é bem interessante, visto que mal completados 14 anos ele já era escalado no time de profissionais do Corinthians de Presidente Prudente, vizinha de Santo Expedito. Magrinho e pequenino, ele escapava dos sarrafos dos adversários com uma agilidade fora do comum.
Dois anos depois, em 1971, com a fama devidamente consolidada na sua região, ele já estava nos juvenis do Guarani de Campinas, levado pelos técnicos Ladeira e Zé Duarte, conhecidos no interior de São Paulo pelo faro apurado na descoberta de jovens talentos. O “país do tri” respirava futebol!
E mais dois anos depois, em 1973, mal completados 18 anos, com o seu nome sendo ventilado para figurar na delegação que iria aos Jogos Olímpicos de 1976, no Canadá, Nino estreou no Brinco de Ouro da Princesa, no time de cima do Guarani, contra o Santos de Pelé e companhia.
Para seu azar, quase nada deu certo naquele dia contra o Santos e o Guarani foi derrotado na frente da sua apaixonada torcida. Nino perdeu o lugar no time e começou uma ciranda de empréstimos, que culminou com sua ida para, sucessivamente, os paranaenses Londrina e Pinheiros, até 1977.
Embora tenha feito sucesso como jogador nos clubes do Estado do Paraná, Nino jamais se deixou iludir pelo mundo do futebol. E tratou de se formar em educação física, ao mesmo tempo em que corria atrás da bola. Era um olho na bola e outro nos livros. O futuro um dia haveria de chegar!
E esse futuro apontava no rumo Oeste do país. Em 1979, por intervenção de um senhor chamado Sílvio Ferreira, que transportava mercadorias para o Acre de caminhão, Nino veio jogar no Rio Branco, onde, pra começo de conversa, se consagrou campeão do V Copão da Amazônia.
Em seguida veio o Juventus na sua vida, onde jogou até 1982. Depois virou técnico (Internacional, Independência e Rio Branco). E depois foi ser professor na Universidade Federal do Acre (Ufac), onde permanece até hoje. Encontrou seu novo lugar. Só volta a Santo Expedito para relembrar as origens. Só!