O ex-zagueiro Carlos em foto atual. Foto/Acervo Junior Refrin.

Carlos: do campo para a igreja – O zagueiro que virou pastor

Francisco Dandão

Aos 51 anos (ele nasceu no dia 4 de março de 1969), o cidadão Carlos César da Silva Barros dedica atualmente o seu tempo a três ocupações: sua família, o ministério pastoral e uma escolinha de futebol. Antes, porém, ele passou 20 anos (de 1983 a 2002) da sua vida defendendo as cores dos mais tradicionais clubes acreanos de futebol. Um zagueiro de plenas virtudes!

Na posição de zagueiro, entretanto, ele só estreou em 1986, numa emergência, no time principal do Rio Branco. Antes disso, quando jogava na seleção da Escola Neutel Maia, nos jogos de várzea da rua Izaura Parente, no time infantil do Atlético Clube Juventus (1983 e 1984) e nos juniores do Estrelão (1985), Carlos alternou jogos como volante e lateral-direito.

“Em 1986, o Rio Branco tinha quatro zagueiros no seu elenco principal. Mas um dia, o único que estava à disposição era o Chicão. Aí o técnico Illimani chegou pra mim e disse que eu iria jogar. O jogo foi contra o Amapá e ganhamos por 4 a 0. O Amapá quase não atacou e eu tive a oportunidade de participar de jogadas ofensivas. Fui bem”, disse Carlos.

Ao todo, Carlos vestiu seis camisas: Juventus (1983, 1984 e 1996), Rio Branco (1985 a 1995, 1998 e 1999), Independência (1997), Vasco da Gama (1999), Atlético Acreano (2000) e Andirá (2001 e 2002). Fora isso, o ex-zagueiro teve uma breve passagem pelo Clube do Remo, em 1995.Em todos esses times, sempre em alto nível e ocupando posição de liderança.

 

Vasquinhos – campeão infantil da Funbesa -1984. Em pé da esquerda para a direita: Zequinha (presidente), Grande, Gil, Carlos, César Limão e Mustafa (técnico). Agachados: Jonas, Nabor Sales, Reginaldo, Manoel Façanha e Augusto. Foto/Acervo Pessoal M. Façanha
Rio Branco (juniores) – 1986. Em pé, da esquerda para a direita: Jair, Carlos, Sérgio, Kléber, Francislei e Maurício Generoso. Agachados: Gil, Oton, Manoel, Papelim, Célio e Rol. Foto/Acervo Flávio Quintela.
Seleção Acreana de Juniores – 1986. Em pé, da esquerda para a direita: Kleber, Carlos, Francislei, Rocha, Fernando e Ademir. Agachados: Célio, Sérgio, Jean, Ley e Dim. Foto/Acervo Carlos Barros.

 

Dois jogos primorosos e um diagnóstico suspeito

Nas duas partidas que o ex-zagueiro Carlos César Barros considera como as mais importantes da sua vida, ele defendia o Rio Branco e saiu de campo derrotado. Ambas as partidas valendo pela Copa do Brasil. A primeira foi contra o São Paulo, em 1993, no Estádio do Morumbi: 1 a 3. E a segunda, foi contra o Corinthians, em 1995, no Estádio do Pacaembu: 0 a 2.

Rio Branco – 1990. Em pé, da esquerda para a direita: Gersey, Klowsbey, Carlos, Sabino, Merica e Chicão. Agachados: Mariceudo, Artur, Washington, Tinda e Siqueira. Foto/Acervo Mariceudo Moura.
Rio Branco – 1992. Em pé, da esquerda para a direita: Joraí (preparador físico), Klowsbey, Carlos, Evandro, Merica, Jorge Cubu, Chicão, Paulo Roberto (técnico) e Sebastião Alencar (presidente). Agachados: Cláudio, Ulisses, Siqueira, Paulo Henrique e Jamerson. Foto/Acervo Francisco Dandão.

 

“Na derrota contra Corinthians eu joguei tão bem que, no final, o Marcelinho Carioca me procurou para trocar a camisa comigo. E contra o São Paulo, mesmo perdendo, fui muito elogiado pelo técnico Telê Santana, Nesse jogo contra o São Paulo, aliás, os elogios dos tricolores foram todos para mim e para o Palmiro. Foram jogos inesquecíveis”, afirmou Carlos.

Já a história do diagnóstico suspeito, essa aconteceu quando ele foi fazer um período de testes no Clube do Remo, no primeiro semestre de 1995, indicado pelo atacante Artur Oliveira, acreano e ídolo do time paraense. Depois de alguns dias treinando, o médico do clube disse que Carlos tinha uma cardiopatia e que não podia se submeter a demasiado esforço físico.

“Apesar do diagnóstico, porém”, explicou Carlos, “eles queriam que eu assinasse um contrato em branco. Eu percebi, na mesma hora, que havia alguma coisa muito errada. Não topei. E aí, depois de seis meses treinando e participando de alguns amistosos pelo Remo, resolvi voltar pra casa. Tanto era uma artimanha deles que eu depois joguei muito tempo sem sentir nada”.

 

Capitães Carlos (Rio Branco) e Henrique (Corinthians), Copa do Brasil de 1995 – Acervo Carlos Barros.
Carlos, capitão do Juventus, recebe das mãos de Enéas Souza e Campos Pereira o troféu de campeão estadual de 1996. Foto/Acervo Carlos Barros.
Independência – 1997. Em pé, da esquerda para a direita: Dorielson, Walter, Chinha, Milton, Bocão, Alan, Dedé, Carlos e Jairo. Agachados: Mundoca, Sérgio da Mata, Ivo, Edilson, Pitiú, Acreano e Ciro. Foto/Acervo Carlos Barros.
Andirá – 2002. Em pé, da esquerda para a direita: Ronaldo, Tom, Rogério, Fabiano, Amarilson e Carlos. Agachados: Ivo, Mec, Neubes, João Paulo e Nailson. Foto/Acervo Francisco Dandão.

 

O gol inesquecível e os melhores personagens

Além das duas partidas impecáveis contra São Paulo e Corinthians, Carlos gosta de lembrar um gol que ele marcou contra o Guarani de Campinas, no Campeonato Brasileiro da Série B de 1990. No lance, ele cortou um escanteio cobrado pelo Pita, se mandou para o ataque, passou a bola para o Siqueira, na esquerda, e pegou o cruzamento deste de peixinho.

Quanto aos adversários mais difíceis de enfrentar, Carlos citou os nomes de Antônio Júlio, Ley, Venícius, Sairo, Testinha, Palmiro e Dim.“Pra enfrentar esses caras todos, eu me preparava antecipadamente. Eu observava as principais virtudes deles e tratava de traçar uma estratégia que pudesse anulá-las. Mas o que eu mais usava era a tática da antecipação”, garantiu.

No tocante aos melhores do futebol acreano, o ex-zagueiro escalou sua seleção com: Klowsbey; Paulo Roberto, Chicão, Carlos e Sabino; Merica, Mariceudo e Artur; Paulinho Rosas, Sairo e Palmiro. Melhores técnicos: Paulo Roberto, por ser estrategista e disciplinador; e Nino, que além de ser um bom estrategista, sabia como ninguém usar de psicologia nas preleções.

Sobre um caminho para a elevação do futebol acreano, Carlos disse que tudo passa pelo fortalecimento de ações voltadas para as divisões de base. E disse que está fazendo a parte dele nesse sentido, uma vez que fundou e orienta uma escola de futebol para crianças e adolescentes (6 a 15 anos). “A escolinha já tem dois núcleos, mas queremos chegar a seis”, concluiu.

O professor Carlos com alunos da Escola de Futebol do Acre. Foto/Acervo Junior Negreiro.