De modo geral, quando a gente se põe a falar de futebol, seja do passado ou do presente, o mais comum é lembrar os grandes craques, aqueles jogadores que tratavam a bola com esmerado carinho, aqueles que a bola obedecia com fidelidade canina, aqueles que a bola amava de paixão…
Até no que diz respeito aos zagueiros e volantes, jogadores que ocupam posições de natureza defensiva, sem muita obrigação de jogar assim tão bonito, a gente costuma lembrar justamente os que cumpriam a sua missão com mais, digamos, delicadeza. Aqueles que não davam “chutão”.
Nesta crônica de hoje, entretanto, eu quero fazer menção aos zagueiros chamados “carniceiros”, aqueles que não perdem a viagem no rumo das canelas dos atacantes adversários, cujo lema é o de bater primeiro e só depois pensar em exigir os documentos dos inimigos “engraçadinhos”.
De uma antiga entrevista que um dia eu fiz com o ponteiro Nemetala, artilheiro do Juventus na segunda metade da década de 1960 e início da década de 1970, surgem as identidades de três grandes “carniceiros” daquela época: Palheta (Independência), Bararu (Atlético) e Stélio (Rio Branco).
As palavras do Nemetala dizem tudo a respeito do tema. “O Palheta tanto era técnico quanto batia quando era preciso. Sabia jogar, mas não tinha escrúpulo em acertar os tornozelos dos atacantes. Já o Bararu e o Stélio, esses batiam sem dó nem piedade. Se passava a bola, o adversário ficava”.
O Palheta, aliás, que eu também já tive a oportunidade de entrevistar, de certa forma confirmou as palavras do Nemetala. De acordo com o referido zagueiro, atacante com ele “não se criava mesmo”. “Eu estabelecia um limite e dali ninguém passava de jeito nenhum”, explicou-me o Palheta.
Mas é claro que os zagueiros “carniceiros” do futebol acreano não se limitaram a esses três citados nos parágrafos anteriores. Enquanto escrevo, os nomes desse tipo de defensor, bem como lances dos quais eles foram protagonistas, vão surgindo na minha cabeça, como um replay nostálgico.
Cito alguns: Deca (Independência), Lécio (Juventus), Abrahão (Floresta), Iracélio (Vasco da Gama), Castro (Andirá), Viegas (Vasco da Gama), Carlos 40 (Vasco da Gama), Rocha (Grêmio Atlético Sampaio), Zenon (São Francisco), Puxa Faca (Atlético)… Todos esses eram terríveis!
É isso, por hoje, meus caros leitores. O futebol não é apenas arte e técnica. Tem lugar pra todo mundo. Tem espaço para virtuoses de teclados e carregadores de piano, artistas e açougueiros. A bola, naturalmente, prefere uns e não outros. Mas, para falar a verdade, uns não existem sem os outros!