O que vale ter um estúdio montado dentro do Parque Olímpico, como a Globo fez na Rio 2016? A proximidade com as atrações dos Jogos e seus personagens. Mas só isso não é suficiente para fazer uma grande cobertura do megaevento.
A impressão de ter estúdios montados no epicentro do burburinho é de alto padrão de qualidade. Mas se não tiver um repórter do outro lado da cidade, dentro da favela, próximo aos torcedores sem ingresso, ou ao lado dos atletas e turistas estrangeiros caminhando longe dos palcos olímpicos, a cobertura vira quase um programa de auditório.
Desfilar personalidades em ambientes com entrevistas, transmitir jogos com comentaristas gabaritados, verificar se as lanchonetes estão abastecendo a contento os torcedores e sentir o clima da torcida antes dos acontecimentos – se possível até tirar umas lágrimas do torcedor – não bastam. Mas é difícil sair disso – e custa caro.
O problema não foi só na televisão. Os portais e jornais também centraram a cobertura nos eventos, com uma ou outra matéria fora dos centros olímpicos. A maioria desse tipo de reportagem consistente envolvendo além da agenda olímpico foi feita pela imprensa internacional.
Os Jogos Olímpicos costumam ter um manancial de pauta muito grande. Acontecem vários fatos ao mesmo tempo, em toda cidade-sede, direta ou indiretamente relacionadas ao megaevento, muitas vezes de difícil acompanhamento.
Mas é preciso ficar atento a isso, por que se centrar só na tabela dos jogos programados, das atividades esportivas e das cerimônias de premiação, fica parecendo que a Olimpíada é tudo ótimo e maravilhoso.
Aliás, foi isso que deu a impressão às pessoas. Não que a Rio 2016 tenha sido ruim, como se inicialmente se esperava. Ela superou todas as expectativas. Mas faltaram os olhares menos ufanistas e mais sinceros da realidade que são captados somente quando se avança além das arenas.
Quem andou pelas ruas do Rio durante os Jogos percebeu que havia uma vida pulsante na cidade fora dos palcos esportivos, uma exaltando suas virtudes e outra revelando seu lado caótico e desordenado várias vezes criticado por quem habita por lá. Faltou à mídia brasileira encontrar esse equilíbrio na sua cobertura.