Por Francisco Dandão
A habilidade de Mariceudo Mário de Moura ficou evidenciada nos primeiros contatos com a bola, ainda na adolescência. Tanto que ele foi levado por um amigo para fazer um teste nos juvenis do Internacional, do bairro do Ipase, e ganhou o lugar que era justamente ocupado por aquele. O professor Gadelha, dono do time, ficou fascinado com o futebol do menino.
“Eu morava na Cadeia Velha [bairro de Rio Branco]. Aí, um dia, depois de uma pelada ali por perto do Senai, o Chico, que era irmão do Moreira, ambos jogadores do Internacional, me convidou para fazer um teste no Saci do Ipase. A ironia é que eu e o Chico jogávamos na mesma posição. Aí eu entrei no time e o Chico foi para o banco”, disse Mariceudo.
Corria o primeiro semestre do ano de 1974. Mariceudo, que nasceu em 7 de setembro de 1958, estava com 15 anos nessa época. Mas, apesar da pouca idade, no ano seguinte já estava atuando no time principal do Inter, formando um meio de campo com Darlan, Piririca e Anazildo, nomes famosos daquele tempo. “Tudo gente com muita bola”, afirmou Mariceudo.
A característica de driblar em alta velocidade, em projeção vertical, rendeu a Mariceudo o primeiro salto na carreira. É que um dia, no final de 1977, num treino do Internacional contra o poderoso Juventus, ele passou por meio time adversário e fez o gol. Reação do juventino Emílson para a direção do clube: “Contrata esse neguim senão ele vai nos dar trabalho”.
Juventus/Nacional/Rio Branco/Independência/Andirá
Em 1978, aos 19 anos, Mariceudo já estava no time titular do Juventus. “Eu estreei junto com o Paulinho. O Juventus foi para o intervalo de um jogo contra o Internacional perdendo por 2 a 1. Aí o técnico Tinoco me colocou no lugar do Carlinhos Bonamigo e o Paulinho no lugar do Julião. Nós entramos e viramos o jogo para 7 a 2”, garantiu o ex-craque.
No ano seguinte, as boas atuações no Juventus renderam um contrato no Nacional, de Manaus. Mas Mariceudo ficou só um ano na capital amazonense. Em 1980 ele já estava de volta ao Ninho da Águia, onde permaneceu até 1982. “Voltei porque a minha mãe adoeceu e eu fiquei preocupado. Era difícil jogar sabendo que ela não estava bem”, contou ele.
Em 1983, Mariceudo recebeu uma excelente proposta para deixar o Juventus pelo Rio Branco. De acordo com ele, “o presidente do Estrelão, empresário Wilson Barbosa, estava querendo montar um timaço e me convidou. Ele disse que cobria qualquer proposta. E cobriu mesmo. Assinei por dois anos, ganhando um carro [Corcel II] e mais uma quantia mensal”.
Depois disso, foi a vez do Independência contar com o futebol do talentoso meia. Ficou no Tricolor nas temporadas de 1985, 1986, 1987 e 1988, ano em que se sagrou campeão do último certame amador do Acre. Em 1989 e 1990 vestiu de novo a camisa do Estrelão. Em 1991 e 1992 jogou pelo Andirá. E parou em 1993, como campeão pelo Independência.
Troco no Edmir Gadelha
Mariceudo não pretendia mais jogar futebol depois da segunda temporada no Andirá, em 1992. Mas aí, um dia, em 1993, no final do primeiro turno, o Aníbal Honorato foi à casa dele e o “convocou” para vestir novamente a camisa do Independência. Mariceudo, que estava alguns quilos acima do peso, relutou. Acabou, porém, cedendo e foi para o jogo.
“Nós perdemos o turno para o Rio Branco. Quando acabou o jogo, o Edmir Gadelha, dirigente do Rio Branco, fez uma gozação comigo, dizendo que o time dele não perdia para gordinhos. Eu lhe respondi que ia entrar em forma e que ganharia o título. Não deu outra. Vencemos a finalíssima por 2 a 1, com gols do Antônio Júlio e do Sabino”, contou sorrindo Mariceudo.
Além dos anos nos gramados, Mariceudo também andou “gastando” a bola pesada do futebol de salão. “Quando terminavam os campeonatos no campo, a gente disputava torneios na quadra. Eu joguei futebol de salão pelo Piauí, Vasco, Internacional e Tecmaq. E depois de parar, ainda disputei jogos de máster pelo SN e pela Seis de Agosto”, explicou ele.
Nos dias atuais, Mariceudo ganha a vida como funcionário da Empresa Municipal de Urbanismo. “Mas pretendo me aposentar dentro de dois anos”, avisou. Aos estádios só vai muito raramente. Assim como boa parte de outros ex-jogadores, a sua desculpa para quase não ver os jogos locais é a má qualidade técnica. “Não existem mais craques”, sentenciou.