Conhecido pela reprise, canal de esportes bate recorde na pandemia

Canal esportivo tem um péssimo hábito. É capaz de repetir inúmeras vezes o mesmo gol após uma partida (claro, de jogos da elite do futebol) pela falta de outros assuntos produzidos na prateleira. E também exaltar jogadores depois de atuar de forma exemplar no jogo do gol incansavelmente mostrado, como se só aquilo movesse o esporte.

Títulos de clubes e de seleção são também motivos extenuantes de exibição e debate quando recém-acontecem ou completam 1 ano, 2 anos, 5 anos, 10 anos, 15 anos, 30 anos… Jogadores-estrelas possuem espaço cativo nessas transmissões, às vezes tratados como deuses.

Com a pandemia, os canais esportivos e espaços dedicados ao esporte não perderam tempo. Repetiram mais partidas e partidas de futebol, de todas as épocas, e movimentaram extensas discussões, quando os mesmos canais normalmente já as faziam, só que de jogos recém-realizados.

O fato é que a reprise se tornou mais aguda nos últimos tempos, antes mesmo da pandemia, quando a crise econômica tomou conta do país e atingiu em cheio patrocínios de eventos esportivos na televisão. Com dinheiro curto, o número de vezes que partidas de futebol estavam sendo repetidas ou exaltadas na TV chegou a um índice exagerado.

Nesse quadro, não seria de se estranhar um usuário cancelando a assinatura por falta do que ver de diferente na televisão paga. A reprise de jogos de futebol estava revelando dificuldades dos canais de esportes de repor a programação.

A glorificação de ídolos sempre foi exagerada no Brasil, fazendo até demais e elevando alguns esportistas a se tornarem superestimados, ou com desempenho maior do que de fato teve na carreira.

A pandemia moveu ao grau máximo essas exibições já extrapoladas da televisão sobre o futebol. O retorno na Europa dos campeonatos melhorou um pouco esse quadro, mas como os canais já vinham definhando na compra de direitos de torneios por falta de recursos, as lacunas do esporte ao vivo seguem gigantescas.

O retorno das competições locais vai dar uma animada, mas dificilmente a enxurrada de reprises de partidas recém-realizadas irão diminuir. E os programas esportivos vão a reboque dessas repetições, já que como não cobrem um universo amplo de acontecimentos, se limitam a tratar aqueles que a casa detém direitos ou interessam de forma imediata. Os debates são então infindáveis em torno do mesmo tema.

A solução a curto prazo não há. A pandemia só ratifica que a transmissão esportiva no Brasil é mesmo capenga.