As mudanças em surdina no estatuto da CBF, permitindo que Marco Polo Del Nero possa ficar mais dez anos na presidência da entidade, são aquelas aberrações que só acontecem em países com instituições frágeis e corruptas. O dirigente foi acusado nos Estados Unidos, em 2015, de conspiração, lavagem de dinheiro e fraude em contratos no “Caso Fifa”.
Del Nero tem todo direito de se defender da acusação, mas as provas são muito contundentes e não possuem um pingo de suposição. O cruzamento de dados e documentos até agora apresentados, levam a crer que existia sim uma rede de corrupção internacional antiga e bastante enraizada em torneios diversos de futebol com envolvimento do cartola (entre outros).
Sabedor da encrenca que se meteu Del Nero nem viaja mais ao exterior por medo de ser preso pela polícia internacional. Aqui no Brasil, porém, por conivência das autoridades, já que há processos também contra ele na justiça, o dirigente continua produzindo abusos.
O último ocorreu numa obscura assembleia, somente entre as federações e a CBF, na quinta (23), em que o atual presidente passou a poder se candidatar na eleição de 2019, quando termina seu mandato, com possibilidade de reeleição. Ou seja, por meio de uma mudança de estatuto, ele pode ficar na presidência até 2027. Pelo estatuto antigo, havia confusão com relação à reeleição, agora dirimida de forma favorável a Del Nero.
Outro ato polêmico da confraria foi com relação ao colégio eleitoral. O estatuto alterado estabelece que os votos das federações tenham peso 3; dos 20 clubes da Série A peso 2; e dos 20 clubes da Série B peso 1. Ou seja, as 27 entidades estaduais contam 81 votos. Os clubes, no total, 60 votos.
Destaca-se que a distorção já existia. Mas mesmo em meio a todos os escândalos que a CBF passou e passa, vê se que os clubes continuam sem poder – e eles não conseguiram aumentar um mísero ponto de sua representação no colégio eleitoral (não estou nem falando em chegar a 50%).
Nesse quadro, passa pela cabeça a moeda de troca dada as federações votantes das mudanças no estatuto. Será que aumentou a mesada, já amplamente conhecida por meio dos balanços financeiros da entidade?
Será que as federações conseguiram também mais apoio financeiro aos famigerados torneios regionais? Como se sabe, a Copa Verde, integrada por equipes do Espírito Santo e das regiões Norte e Centro-Oeste, tem premiações pífias em relação, por exemplo, à Copa Nordeste – lembrando que os campeões desses torneios nem mais direito de disputar a Copa Sul-Americana possuem.
Uma equipe vencedora da Copa Verde não ganha a metade, em premiação da CBF, do que leva um time somente para participar da Copa Nordeste. Essa é apenas uma pequena distorção do que ocorre, num canto do País.
Na verdade, vivemos numa ditadura no futebol brasileiro, seja de quem o comanda até do que o torcedor deve ou não assistir em casa pela TV, já que não há democratização de imagem. E esse regime só provoca desigualdades dentro da grande massa de clubes, trabalhadores e consumidores do maior esporte do País. É insano conviver com isso.