Morei dois anos em São Paulo, na época em que eu cursava um doutorado em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica. Morei dois anos, mas jamais passei um Réveillon na cidade. Todo mês de dezembro eu ia para Fortaleza, virar o ciclo solar pertinho do mar.
Por não permanecer na capital paulista nos finais de ano, eu também nunca pude apreciar in loco os jogos da Copa São Paulo de Futebol Junior, a denominada Copinha. Sempre assisti aos jogos desse torneio à distância, milhares de quilômetros longe, pelo olho eternamente mágico da televisão.
Nesse recente final de ano, porém, para confirmar a minha compulsão de estar sempre indo e voltando de um lugar para o outro, nada mais lógico, agora que eu moro em Fortaleza, do que a minha decisão de passar a referida virada do ciclo solar na desvairadamente linda capital de todas as esquinas.
Dessa forma, então, eis que eu botei o pé num avião e me mandei para o delirante concreto anfitrião de todas as tribos, credos e cores. Sim, cores mesmo. É que entre o chumbo do céu e o negro do asfalto saltam por entre ladeiras e planícies paredes, brincos e tatoos de todos os matizes e espécies.
E, assim, eu era um daqueles dois milhões de criaturas que dançaram (força de expressão, que eu no máximo ensaio um movimento de cintura, sem tirar os pés do lugar) à meia-noite do dia 31 de dezembro, no embalo da voz sensual da baiana Claudinha Leite, no Réveillon da Avenida Paulista.
A festa na avenida foi a primeira parte da minha missão. Uma vez cumprida, tratei de traçar o meu roteiro para saber como é que eu devia fazer para chegar em São Bernardo, cidade onde o time sub-20 do Rio Branco jogaria a fase de grupos da Copinha. Sim, lá onde moram as barbas do Lula.
O primeiro jogo do Rio Branco, contra o time da cidade, estava marcado para às 14 horas. Calculei o tempo que eu levaria para chegar ao local e exatamente às 11h30m entrei no metrô que me levaria à estação Jabaquara. A etapa seguinte seria percorrida num ônibus elétrico (trolebus).
Cheguei ao estádio Baetão bem na hora do hino, quase duas horas e meia depois de entrar no metrô em São Paulo. E a minha primeira impressão não foi da melhores. É que a diferença física entre os atletas dos dois times era enorme. O Rio Branco parecia um time mirim em comparação com eles.
Não gostei daquilo. Mas ainda me sobreveio a esperança de que nem sempre o maior é o melhor. A esperança se esvaiu tão logo a bola rolou. O anfitrião, mesmo sem jogar muita bola, se impôs na força e venceu fácil. Pra completar, eu ainda levei chuva no lombo. Só valeu pela festa de Reveillon!