Quando no início dos anos 2000 duas CPIs do futebol funcionaram no Congresso, achava-se que algo poderia mudar no esporte mais popular do País. Mas o que se viu foi o aumento dos desmandos.
De 2015 para cá, duas novas CPIs do futebol ocuparam novamente a agenda dos nobres deputados e senadores, aproveitando a onda de megaeventos esportivos no País. As duas chegaram ao fim de forma melancólica.
A conclusão é que as comissões parlamentares de inquérito não servem para nada, a não ser dar holofote a políticos visando passar a impressão que defendem o interesse público – no fundo, eles querem manter-se em evidência para tirar vantagens em futuros pleitos eleitorais.
A primeira, criada em 2000, o relatório final já falava em evasão de divisas e lavagem de dinheiro de executivos da CBF. Discute-se muito o resultado dessa comissão. Propala-se que ela propiciou a recuperação de milhões pelo governo por meio de multas a clubes e a CBF, além de ter impulsionado a modernização de leis para o esporte. Vendo hoje, parece que isso não adiantou muito.
Em 2001, a CPI da CBF/Nike não teve votação do relatório final, que pedia indiciamento de vários dirigentes, por que a comissão, controlada pela Bancada da Bola, queria reprovar o documento.
A criada por Romário no ano passado vez muito barulho em seu início, convocando vários cartolas à comissão, mas hoje ela está travada, por que desde o meio do ano contesta-se na Casa um requerimento para depoimento à CPI do atual presidente da CBF – trata-se de uma ação orquestrada pela Bancada da Bola para preservar Marco Polo Del Nero.
Por outro lado, Romário parece satisfeito com o resultado da comissão (ela encerra oficialmente os trabalhos no final do ano) dentro do seu objetivo político que, pelo conjunto da obra exposto ao público até o momento pela CPI, visa incriminar a CBF e ponto – como se não houvesse uma cadeia ilegal por trás, com a participação de empresas e grupos de mídia em acordos milionários, conforme demonstra documentos regularmente vazados no exterior de movimentação financeira em paraísos fiscais.
A última CPI, criada esse ano na Câmara no bojo dos escândalos na FIFA envolvendo dirigentes brasileiros, chegou a ser extinta, mas no fim saiu um famigerado relatório, sem ser votado, mostrando o lado nefasto do futebol que já estamos carecas de saber: falta transparência e punição a toda a estrutura, incluindo entidades públicas e privadas.
As autoridades americanas e suíças, ao invés de ficar discutindo, foram muito mais efetivas do que 16 anos de CPIs do futebol. Prenderam o então presidente da CBF, José Maria Marin, depois que o dono da Traffic, J. Hawilla, em prisão domiciliar nos Estados Unidos, entregou ao FBI, com fartas provas, como os negócios do esporte são operados no Brasil.
O FBI indiciou ainda por corrupção o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o atual, Del Nero, que não pode viajar mais ao exterior por que corre o risco de ser preso, numa situação ridícula e vergonhosa para o País.
A verdade é que lá fora os comandantes do futebol brasileiro não tiveram a mesma conivência das autoridades brasileiras. Essa é a grande diferença.