Crítico dos gastos de reconstrução do Maracanã, o candidato a governador do Rio e deputado federal Anthony Garotinho, quando comandava o Estado, desembolsou a metade do total aplicado pelo atual governador Sérgio Cabral no estádio. Em busca de votos daqueles que são contrários à concessão do estádio e dos preços abusivos cobrados hoje para frequentá-lo, Garotinho dá tiro no pé sobre um assunto que é espinhoso para ele também.
O candidato ao governo do Rio ganhou as manchetes da imprensa essa semana depois dizer que, caso eleito, irá romper o contrato de concessão do Maracanã. Ele ainda criticou os gastos elevados com a reconstrução e preços altos cobrados pelos ingressos e para comer e beber dentro da arena.
No seu primeiro governo do Rio, entre 2009 e 2002, Garotinho reformou o estádio para a o Mundial de Clubes que aconteceu em 2000. Já no governo de sua mulher, Rosinha, entre 2003 e 2006, nova reforma foi feita para os Jogos Pan-Americanos de 2007 – esta última foi considerada a maior já realizada na história do estádio, até então.
Calcula-se que as duas reformas no Maracanã consumiram em valores da época cerca de R$ 200 milhões – atrasos e reformulação de custos (para cima, claro!) marcaram os projetos; na ocasião, a troça era dizer que este custo era capaz de construir um estádio novinho em folha. Em valores atualizados hoje, 8 anos passados, não seria leviano dizer que o que foi gasto no governo da família Garotinho em reforma no estádio é, com certeza, quase a metade do dispendido por Cabral para reconstruir o Maracanã (R$ 1,2 bilhão).
No seu curral eleitoral, em Campos dos Goytacazes, no norte do Estado Rio, onde Rosinha Garotinho é prefeita reeleita, o estádio Godofredo Cruz, do Americano, está sendo demolido para dar lugar a um empreendimento da Imbeg. O Americano, dono do estádio e que por muitos anos foi o principal clube de futebol do interior do Estado, fez acordo com a construtora para, em troca, ganhar em outra área um novo estádio com centro de treinamento e instalações sociais e administrativas.
Garotinho é torcedor número 1 do Goytacaz, rival do Americano na cidade. Ambos clubes jogaram a segunda divisão do Campeonato Carioca esse ano. Conhecedor do futebol – Garotinho foi repórter de campo no início da carreira -, o nobre deputado federal avalizou o projeto do Americano, que com a parceria pretende quitar sua enorme dívida.
Com isso, percebe-se que o candidato tem exata noção dos meandros do futebol no Brasil, das condições de sua infraestrutura esportiva e dos clubes, as altas despesas e receitas, o difícil caminho de equilibrá-las, e o custo de manutenção de um estádio.
Ainda que o Estado tenha gasto uma fortuna para reconstruir o Maracanã e que a administração privada da arena deveria se dar em condições mais favoráveis à população, manter o estádio nas mãos do poder público segue na contramão da gestão pública moderna e do gasto do dinheiro do contribuinte realmente para o essencial. Antes de pensar em romper contrato de concessão em vigência, como é o caso do Maracanã, Garotinho poderia ter falado em solução mais exequível para o futebol carioca ao invés de jogar para galera.
Augusto Diniz