Voltei para o meu aconchego. O meu aconchego, no caso, é o nono andar de um condomínio no bairro do Mucuripe, em Fortaleza. Desse lugar, com um céu de imenso brilho entrando pela janela e com o notebook acomodado sobre o corpo, eu construo os meus diálogos com as palavras.
Voltar é ter ido. Esse ter ido diz respeito a uma viagem ao Acre, meu Estado de origem. Fiquei um mês na terra desbravada (inicialmente) por Dom Luís Galvez. Um mês ajudando o afilhado Manoel Façanha a fazer a sexta edição da revista anual que fala das peripécias do futebol acreano.
Trabalhar nessa revista é sempre um prazer. Proporciona um tempo de descobertas. Um tempo de antigas histórias brotando dos mais vastos escaninhos da memória. Algumas histórias são novas revelações. Outras histórias trazem detalhes já sabidos, mas momentaneamente esquecidos.
Uma história que eu não sabia, por exemplo, me foi contada pelo personagem Pintinho, meia do Atlético entre 1975 e 1984. Justamente a história de que ele se recusou a fazer parte de um esquema tático que exigia correr o tempo inteiro. Ele não aguentava porque só comia arroz com ovo!
O exemplo de história conhecida, mas à qual foram acrescentados ricos detalhes, me chegou aos ouvidos pela narrativa do atacante Elísio, juventino de quatro (ou mais) costados. A história daquela quarta partida, envolvendo o campeonato estadual de 1972, que só foi decidido em 1973.
E fora as conversas com todos os novos personagens, a cada edição a revista ainda me proporciona um bom mergulho arqueológico (?) na iconografia do futebol acreano. Imagens contidas em acervos esquecidos emergem através da minha busca. As imagens comprovam as narrativas!
Não fosse a produção da revista, eu provavelmente jamais teria acesso a imagens antigas de times de Porto Acre. Pois eu fui “bater lá”, onde conheci o seu Arthur Sena, memorável desportista da referida cidade, e resgatei, a partir do acervo dele, fotos dos lendários Pirapora e Ipiranga.
E ainda tive o prazer de uma ida a Xapuri, onde me avistei com os lendários Rubinho (goleiro do Brasília na década de 1970) e Julinho (atacante do Rio Branco, Independência e Atlético, na década de 1980). Faltou vadear rios e trilhar varadouros. Mas isso eu faço na próxima vez.
É isso. De volta para o meu aconchego (bem como para o começo deste texto), alterno a visão do céu com o livro da hora: “Vilém Flusser – Uma introdução”. São notas biográficas sobre o filósofo tcheco que passou uns anos aqui no Brasil. O risco é o de me perder no emaranhado da trama!