Descobrimento e pelada

Todos os anos, em abril, ante a proximidade dos dias 19 e 22, eu me ponho a refletir sobre o significado de duas datas comemorativas: o Dia do Índio (ou “povos originários”, dependendo do lado que vem o discurso) e o que se convencionou chamar nas escolas dia do Descobrimento do Brasil.

Nas minhas reflexões fico pensando nos motivos pelos quais se criou o Dia do Índio. Seria uma atitude dos ditos civilizados para se penitenciar pelo genocídio contra a nação indígena desde sempre, seja na base de lâminas afiadas, seja na base de pólvora, seja na contaminação por vírus?

Ou seria porque, em algum momento desses quinhentos e tantos anos, se chegou à conclusão de que eles, os índios (digo, os tais “povos originários”) é que são (sempre foram) os verdadeiros donos dessa antiga Terra dos Papagaios, Vera Cruz, Santa Cruz, Brasil ou o raio que os pariu?

Da mesma forma, me pego a refletir (me esquivei do gerúndio, tão vendo só?) que papo furado é esse de descoberta, de acaso, culpa do vento que repentinamente parou de soprar na vela dos mal cheirosos portugueses, esses ditos pás que vieram fundar e tomar conta do pão nosso de cada dia?

E por conta dessas reflexões, seja por isso ou por aquilo, cada vez tenho mais certeza de que a história oficial é uma grande falácia, sabe-se lá por quais razões. Toda errada, mas a maioria de nós não se dá conta e vai tocando o barco (nau, caravela, iate ou canoa) para bem depois de além-mar.

O ato fundador da posse portuguesa por aqui, de acordo com os livros escolares, foi a celebração de uma missa, levada a efeito por um certo frei Henrique de Coimbra, no dia 26 de abril de 1500, quatro dias depois que os portugueses já andavam distribuindo espelhinhos para a galera nativa.

Maior conversa fiada. O ato fundador foi, na verdade, uma pelada, jogada numa das praias de Porto Seguro, entre o time da casa e os visitantes. Documento encontrado na Torre do Tombo, em Portugal, fala expressamente desse fato. E fala também que os portugueses levaram uma senhora goleada.

A missa foi o segundo ato. E os portugueses só não divulgaram a história verdadeira com medo de serem alvo de gozação na volta para as bandas do Alfama, primeiro bairro de Lisboa, onde a turma do bacalhau costumava gastar as tardes ouvindo fados e enxugando garrafões de vinho.

A pelada, essa instituição genuinamente brasileira, começou ali, no dia 23 de abril, 24 horas depois da chegada dos invasores. O nome dado a esse primeiro confronto, aliás, se justifica porque os atletas do time anfitrião se recusaram terminantemente a vestir os uniformes doados pelos portugueses!

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