Francisco Dandão
Morador do bairro José Augusto, desde que a família migrou de Xapuri para Rio Branco, na segunda metade da década de 1970, o menino José Dirceu Soares Ferraz, nascido no dia 1º de junho de 1973, deu os primeiros chutes numa bola de futebol na quadra que ficava nas imediações da sua residência. E desde sempre demonstrou que podia ir longe no esporte.
Da quadra do Bairro José Augusto para o campo do Vasco, também nas proximidades da residência dele, foi só questão de tempo. Logo o menino bom de bola estava integrado ao time infantil do Almirante da Fazendinha, sob o comando do técnico Marcos Maguete, em torneios promovidos pela entidade Recriança, dirigida pelo desportista Josemir Calixto, o Mimi.
Depois disso, tudo foi somente uma sequência e em 1990, mal completados 17 anos, Dirceu já estava no time principal do Vasco da Gama. “O Vasco, clube considerado pequeno, sempre teve problemas para manter um time profissional em atividade. E naquele ano de 1990 não foi diferente. Por isso, foram promovidos vários dos garotos da base”, explicou Dirceu.
Uma temporada na divisão principal do futebol acreano foi suficiente para que o talento do meia Dirceu fosse reconhecido por todos os que frequentavam o velho estádio José de Melo. Elegante, habilidoso, sem medo da cara feia dos zagueiros adversários e procurando jogar sempre de maneira vertical, quem o via em ação não tinha dúvidas que ali estava um craque.
A vila famosa como destino
Em algum momento do campeonato acreano de 1990, um olheiro do Santos de Pelé chegou ao Acre, a convite de um treinador chamado Toninho Silva, para observar o atacante Cangerê, do Rio Branco. Como ninguém joga sozinho, o olheiro viu o Cangerê e os demais jogadores que estavam em ação por aqueles dias. Viu e percebeu em Dirceu um belo diamante a ser lapidado.
Dessa forma, já nos primeiros meses de 1991, Dirceu estava na Vila Belmiro para um período de testes no Santos. “O olheiro se chamava Tite e tinha jogado com o Pelé, nos áureos tempos do Santos. Ele gostou de vários jogadores que viu no Acre, entre os quais eu, o Cangerê e o Venícius. Aí nós três e mais outros arrumamos nossas malas e fomos embora”, disse Dirceu.
A estada na Vila durou até 1995. Dirceu entrou em campo em partidas pelo time aspirante e profissional. Chegou até a excursionar com o time profissional na Arábia Saudita e no México. Mas teve poucas chances. E acabou, neste período de 1991 a 1995, sendo emprestado para vários clubes brasileiros, entre os quais Jaru-RO, Tanabi-SP e Tangará da Serra-MT.
“É muito difícil se firmar num grande clube do futebol brasileiro quando o jovem atleta é oriundo de um estado distante. Você chega num lugar que tem centenas de outros bons candidatos disputando uma vaga. O sujeito fica meio perdido. Eu acho que o que faltou pra me firmar no Santos foi alguém ao meu lado para me dar uma orientação melhor”, falou Dirceu.
Volta pra casa e nomes em destaques
Em meados de 1995, aos 22 anos, Dirceu considerou que não teria vaga no Santos e também não queria mais ser emprestado para clube algum. Aí pediu (e recebeu) seu passe da diretoria do clube praiano. O craque voltou para Rio Branco e aceitou o convite do irmão Roberto para trabalhar em Porto Velho. Desiludido, o jovem atleta não queria mais saber de futebol.
Mas a hora de parar não havia chegado e alguns anos depois, em 1999, atendendo a uma convocação do ex-árbitro e técnico José Ribamar Pinheiro de Almeida, ele vestiu por duas temporadas a camisa do Independência. As chuteiras só seriam penduradas definitivamente em 2003, depois de passagens pelo Rio Branco (2001), Atlético Acreano (2002) e Adesg (2003).
Indagado sobre quantos gols marcou na carreira, Dirceu disse que nunca se preocupou em fazer anotações sobre isso, mas garantiu que “deve ter sido mais de cem”. O mais bonito, porém, ele guarda na memória. “Foi pelo Independência, contra o Rio Branco. Eu e o Redson saímos tabelando desde a entrada da nossa área até o gol do Estrelão. Uma pintura”, afirmou.
Para finalizar, depois de hesitar para dizer uma seleção acreana dos anos de 1980 e 1990, ele escalou o seguinte time: Tidalzinho; Miquinha, Sales, Paulão e Sabino; Tinda, Dirceu e Mariceudo; Dim, Roberto Ferraz e Ley. Escalou, mas pediu para acrescentar outros nomes que poderiam figurar na seleção: “Dedé, Carlinhos Bonamigo, Redson, Pitiú, Sampaio e Cairara.”