Francisco Dandão
O ex-craque acreano das quadras e dos gramados Elpídio Rodrigues do Nascimento Filho, mais conhecido como Dô, é uma dessas criaturas eternamente de bem com a vida. Dificilmente alguma coisa o tira do sério. Faz graça com tudo. Tanto que quando alguém lhe pergunta qual a posição que ele jogava, a resposta é: “Centroavante matador e pivô das multidões”.
Nascido em Rio Branco, no dia 11 de abril de 1963, a história do Dô enquanto craque de bola começou quando ele tinha 11 anos, em 1974. Dessa época até 1978, ele jogou, sucessivamente, nas equipes infantis do Sesi, Fluminense do Barbadinho, Rodoviária do Rivaldo, Internacional do Juquinha, Fast Clube do Bairro José Augusto e Rio Branco do Illimani.
Dô explicou que resolveu abandonar os gramados porque conseguiu um emprego e ficava difícil conciliar o trabalho com os treinamentos. Mesmo assim, quase sem treinar, Dô ainda jogou algumas vezes, dividindo a vaga com um amigo chamado Joari (cada um jogava um tempo). Mas ele disse que não achava isso justo. Aí pediu dispensa para o técnico Illimani.
A mudança definitiva para o futebol de salão (depois futsal) aconteceu em 1979, quando o general Moreno Maia, dirigente do Incra no Acre, convocou uma turma de meninos do bairro José Augusto para defender a entidade no campeonato da modalidade. “Fomos eu, o Nande, o Marinho, o Casquinha, o Nelsinho e o Bé. Uma turma muito boa”, garantiu o Dô.
Muitas camisas e vários títulos no currículo
Depois da estreia, em 1979, no time do Incra, quando chegou às finais do campeonato, Dô vestiu uma infinidade de camisas até pendurar o tênis em 1994, aos 31 anos. Contaram com a sua arte, entre outros, os times Assermurb, Rio Branco, Real, Madeireira Floresta, Juventus, Banacre, Gráfica Estrela, Casa das Tintas Luciana, Piauí e Drogaria Amorim.
“Eu mudava muito de time porque sempre me apareciam boas propostas financeiras ao fim de cada temporada. Era um dinheirinho legal. Dava pra ajudar em casa e ainda tomar umas geladas. E eu valia o dinheiro que me pagavam. Sempre fiz muitos gols e ganhei vários títulos. E ainda disputei alguns campeonatos brasileiros pela seleção acreana”, afirmou Dô.
No que diz respeito aos títulos conquistados, Dô garantiu que foram tantos que ele até perdeu as contas. Mas lembrou dos mais significativos. No caso o título estadual de 1989, pelo Banacre, o de 1990 pela Gráfica Estrela e o de um campeonato aberto, no ano de 1982, jogando pela Assermurb. Títulos onde ele sempre figurou na cabeça da cobiçada tabela de artilheiros.
Ele explicou também que jogou numa época com tantos bons jogadores que seria muito difícil formar uma seleção sem cometer injustiças. Dessa forma, em vez de escolher cinco atletas, ele citou vários nomes dignos de figurar num time perfeito. “Lauro Fontes, Auzemir, Adrian, Cirênio, Ney, Baiche, Carlinhos Bigu, Magide, Adriálvaro, eu… só fera, véi”, disse.
Gol inesquecível e os irmãos jogadores
O “pivô das multidões” elegeu como o seu gol mais bonito um dos que ele marcou numa competição disputada em Manaus, em 1985, jogando pelo Real, contra o Bahia, que era o campeão amazonense. “Nós ganhamos esse jogo por 4 a 3, eu fiz três gols e fomos campeões do torneio. E olhe que nós jogamos desfalcados. Até o nosso técnico teve que jogar”, explicou Dô.
A descrição do gol foi o próprio personagem quem fez. “Houve uma falta na frente da área do Bahia. Encarregado da cobrança, o Casquinha bateu jogando a bola no peito do Adriálvaro. Este deu uma escorada para trás, na minha direção. Eu peguei de primeira, sem deixar a bola cair e ela foi direto na forquilha dos caras. Um senhor golaço aquele, véi”, garantiu Dô.
Um detalhe relevante da biografia do “pivô das multidões” é que ele não foi o único da sua família que gastou a bola nos gramados/quadras acreanas. Dois dos seus três irmãos também jogaram com algum brilho, na década de 1970: João Sobrinho, zagueiro do Floresta, e Zé do Elpídio, volante do Internacional. Mas ele, Dô, foi o de maior destaque entre os três.
Aposentado desde 2012, depois de se submeter a um transplante de fígado (o filho, Elpídio Júnior, doou 30% do órgão pra ele), o “pivô das multidões” curte nos dias de hoje uma merecida aposentadoria. A bola no pé ficou no passado e nas muitas fotografias que ele guarda com carinho. Mas não perde um jogo, tanto nos ginásios quanto nos estádios. É uma lenda viva!