Pequenino, entregando jornais ou zanzando aos domingos por entre as bancas do mercado municipal de Rio Branco, quase sempre meio de porre pelas tantas doses de cachaça ingeridas logo cedo, quem vê o cidadão José Ribamar da Silva jamais imagina o craque de bola que ele foi um dia.
Pelo nome de batismo, igualmente, poucas pessoas o reconhecem. Desde criança, o filho do vigoroso zagueiro atleticano Bararu passou a ser conhecido pelo apelido de Duda. E desde criança também que a perna canhota dele tratou de chamar os adversários para grotescos ritos de dança.
Tanto no futebol de salão (esporte precursor do atual futsal) quanto no futebol de campo, a categoria do Duda era a mesma. Marcá-lo era impossível. Driblador, veloz e de chute preciso, Duda só não saiu do Acre para exercitar a sua arte porque sempre gostou de muito samba e boêmia.
Ele é a minha lembrança mais antiga de uma jogada espetacular. O lance aconteceu numa quadra em Brasiléia, na fronteira do Brasil com a Bolívia. Não lembro bem o ano, mas sei que foi em meados da década de 1960. As minhas retinas de criança gravaram a cena para todo o sempre.
O Duda, ainda adolescente, jogava no time do Colégio Acreano, ao lado do goleiro Eládio Rojas, do Atabyrio, do Lando e do Marcelo Ipojucan. O jogo era contra uma seleção da cidade boliviana de Cobija. E ainda no primeiro tempo os brasileiros já venciam por muitos gols a zero.
Pois foi aí que aconteceu o milagre. O Eládio entregou a bola para o Duda bem ao seu lado. Este, em velocidade, driblou todos os cinco adversários. O goleiro estatelou-se no chão. Mas em vez de chutar para o gol escancarado, ele voltou para o seu campo driblando todos outra vez.
Os torcedores brasileenses, separados da quadra apenas por uma corda, não resistiram, invadiram a quadra e cobriram o magricela Duda com abraços. Penso que ninguém havia visto até então nada igual. Se vencer já os enchia de orgulho, humilhar os bolivianos não tinha preço!
Para mim, naquele instante o Duda virou uma lenda. Mas eu, anos depois, ainda teria oportunidade de vê-lo muitas vezes mais, em Rio Branco, com as camisas de vários times de futebol de campo. Em todos, com a mesma irreverência: dribles, trivelas, “canetas” e bolas na “gaveta”.
Essas reminiscências todas me ocorreram por conta de uma homenagem que eu vi por esses dias o jornal Opinião prestar ao Duda. Nada mais justo, eu pensei aqui com os meus cada vez mais diminuídos neurônios. Foi a partir daí que eu resolvi dizer alguma coisa. Então tá dito!