Se a Federação Paulista de Futebol (FPF) mostra disposição em combater a manipulação de resultados é por que a coisa anda feia. A entidade diz ter repassado às autoridades informações que contribuíram para a chamada operação “Game Over”, realizada dias atrás.
Volta e meia se discute aqui se um jogo foi ou não “roubado”. Em geral, as promotoras do futebol no País – no caso, federações e CBF – costumam dar de ombros a isso. Mas a temperatura deve ter subido muito para a FPF ir atrás do assunto agora.
A ação prendeu suspeitos de tentar fraudar resultados de jogos da primeira divisão do Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Acre, Mato Grosso e Paraná, além de partidas da segunda e terceira divisões e categorias de base do Campeonato Paulista – e mais recentemente soube-se de tentativa de manipulação na Série D do Campeonato Brasileiro/2015.
São muitas competições para achar que não existe nada – nem uma investigação policial suporia tanto assim. É óbvio que tudo deve ter sido feito com absoluta discrição, mas estamos falando de pelo menos dez campeonatos, com a participação de mais de 100 clubes e milhares de jogadores.
A manipulação de resultados visava beneficiar apostadores de sites de apostas na Ásia. Uma das partidas mais suspeitas foi de uma arrasadora vitória de 9 a 0, em 2015, do Santo André contra o Sorocaba, no Paulista Sub-20 – esse resultado pode ter permitido um apostador mal intencionado do outro lado do mundo ganhar 20 vezes mais do que apostou. Seus comparsas aqui no Brasil trataram de tudo com os clubes e/ou seus jogadores, suspeita a polícia.
Há dois pontos aqui. Primeiro, o aliciamento de clubes de divisões inferiores e de Estados fora do centro maior do futebol (Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul), não é algo tão complexo. Há várias agremiações sem dinheiro algum, endividadas e com jogadores com salários atrasados (ou ganhando muito pouco) nesse quadrante investigado pela polícia – para se corromperem é um pulo.
O segundo ponto, mais curioso, é como sites lá fora colocam qualquer competição na roda. Convenhamos, pôr na bolsa de apostas da Malásia, China e Indonésia os jogos dos campeonatos Potiguar, Maranhense, Acreano, terceira divisão do Paulista etc. é bastante inusitado. Só pode levantar suspeita.
Dado todos esses aspectos, é bastante possível que tenha, de fato, manipulação no futebol brasileiro. O problema vai ser separar o joio do trigo. Num esquema desses, não dá pra comprar toda uma equipe sem vazar. É por isso que suspeitas desse tipo costumam recair sobre os juízes, já que só é capaz de controlar uma partida.
Mas ainda acho que o problema maior do futebol aqui e no mundo são seus dirigentes. Por isso, me surpreendeu a atitude da Federação Paulista, citada no início desse texto. Mas ainda é uma agulha no palheiro.