Coquinho sempre é requisitado para dirigir jogos de competições amadoras e peladas de entidades associativas. Foto/Manoel Façanha

Edson Coquinho: o nosso Pierluigi Collina do apito amador

MANOEL FAÇANHA

O nome do microempresário Edson Coquinho é um dos mais conhecidos entre os peladeiros de competições amadoras da cidade de Rio Branco. A fama do personagem não está relacionada ao fato de marcar gols ou realizar jogadas plásticas, mas sim pela capacidade de intermediar partidas de futebol ou futsal com o apito na boca.

Filho do casal de aposentados Zé Chico (Eletroacre) e Maria Alzira (Emater), Edson Correia Gomes, o Coquinho, nasceu na cidade de Feijó, no dia 10 de abril de 1974. O apelido, segundo ele, foi dado pela Dona Conceição: “Quando eu cortava o meu cabelo, a minha cabeça ficava pequeninha e a Dona Conceição, então, passou a me chamar de Coquinho e o apelido pegou”, disse sorridente.

A vida esportiva de Coquinho começou quando, ainda adolescente, participava de animadas peladas nos campos de várzea da cidade de Feijó. No entanto, a primeira competição importante a qual disputou foi o Campeonato de Férias, isso em 1990, com a camisa do Estação, equipe amadora do desportista Erivaldo Lopes (Nego). Coquinho ainda colecionou passagens pelos times do Cruzeiro do Tangará, Bangu de Senador Guiomard, agremiação do técnico/dirigente Darci Silva, onde jogou por 10 anos. A carreira de lateral direito/volante foi encerrada no time do Supermercado Araújo, em 2008.

Estação – 1990. Em pé, da esquerda para a direita: Edson Coquinho, Ozimar, Romildo, Fabiano, Mirim, Neko e Almir. Agachados: Assis Basto, Bodó, Cesar Augusto (…), Anaildo, Chiquinho e Sandro. Foto/Acervo Edson Coquinho

Inquieto e amante do futebol, Coquinho ficou pouco tempo fora dos gramados e logo aceitou um convite feito pelo desportista Oseias Reginaldo para fazer parte do quadro de arbitragem da Liga Rio-branquense de Futebol, convite esse reforçado pelo diretor de arbitragem da entidade, Francisco Coelho Sobrinho (Chicão), isso no início da temporada de 2009.

No seu primeiro ano de arbitragem, Edson Coquinho posa com a bola ao lado dos assistentes Chicão e Marcos Lopes. Na foto do lado direito, ele com a camisa do Bangu/Senador Guiomard. Foto/Acervo Pessoal Edson Coquinho.

Sempre com um sorriso no rosto e uma resposta bem-humorada na ponta da língua, Coquinho lembrou que sua estreia na arbitragem ocorreu no dia 03 de janeiro de 2009, numa manhã de domingo, no confronto envolvendo as equipes de Coritiba e Campinas. “Foi uma partida difícil e recheada de boleiros e com reclamações dos dois lados, mas deixei o gramado elogiado pelos presentes nas dependências do campo do Cafalate”, disse Coquinho, afirmando ainda que aquela partida foi fundamental para ele focar na carreira de árbitro, tanto que acabou escalado naquele mesmo ano para apitar a decisão da competição entre União do Calafate e Fluminense da Bahia, algo inédito na história do torneio.

Final do Campeonato de Férias 2009 envolvendo as equipes do União Calafate e Fluminense da Bahia. Na foto oficial da esquerda para a direita: Afonso (assistente 1), Airton (Fluminense), Edson Coquinho, Timóteo Sales (União) e Gilberto (assistente 2). Foto/Acervo Edson Coquinho.

Coquinho elege os melhores da arbitragem e fala da boa “malandragem” para conduzir jogos

Com quase uma década e meia inserido na arbitragem local, Edson Coquinho elegeu o desportista Etevaldo Santana (Bibite) como o melhor árbitro a qual viu apitar nos gramados do estado. “O Bibite era um árbitro clássico e conhecedor profundo das regras e, como poucos, sabia aplicá-las”, comentou Coquinho, elegendo ainda Mário Jorge e Sandro Vasconcelos como os melhores assistentes.

O árbitro Edson Coquinho e a esposa Pathy Silva, sua grande incentivadora da carreira e também mesária, na Arena do Urubu. Foto/Acervo Pessoal Edson Coquinho

Em 2011, pelas mãos do saudoso presidente da Federação Acreana de Futsal (Fafs), desportista Sérgio Luís, Coquinho passou a fazer parte do quadro de arbitragem da entidade. Na modalidade, ele coleciona cinco finais de estadual da primeira divisão e outras seis da segunda divisão, além de três decisões da Copa TV Gazeta entre outras. A respeito do melhor árbitro da modalidade, ele elegeu Carlos Ronne Casas. “O Carlos Ronne era outro bom árbitro conhecedor da regra e sempre aplicava ela como mandam as normas vigentes da CBFS”, elogiou Coquinho.

Sempre requisitado para dirigir jogos de competições amadoras e peladas de entidades associativas, o nosso Pierluigi Collina diz que o segredo para apitar na várzea está não somente no conhecimento das regras do jogo, mas também ser um conhecedor profundo das malandragens adotadas pelos boleiros, algo, segundo ele, que conhece como poucos, isso graças à experiência adquirida durante os anos que disputou competições de várzea. Outro facilitador para administrar os jogos, segundo Coquinho, está relacionado ao respeito aos atletas, independentemente da idade, equipe, cor, classe social, ideologia política ou religiosa. “Quando eu entro em campo para trabalhar todos os atletas são iguais perante as normas do jogo”, disse Coquinho.

Equipe de arbitragem da parida festiva antes da final da Copa TV Gazeta/2018. Antônio Carlos (árbitro AM) Eliane Souza (anotadora), Fran Fernandes (cronometrista) e Edson Coquinho (árbitro AC). Foto/Manoel Façanha.
Árbitros e capitães posam para fotografia oficial durante as semifinais da Copa TV Gazeta/2018. Vitor (IBB/Recol), Edson Coquinho, Natan (Arasuper) e Josimar Almeida. Foto/Manoel Façanha.

Frustração na carreira, o primeiro “VAR” no Acre e momento inesquecível 

Com 48 anos de idade e pai de três filhas: Jéssica, Gercinaira e Jercilene, Coquinho explicou que carrega consigo apenas uma pequena frustração, a de nunca ter apitado uma partida em nível profissional, mas ele garante que durante às atuações no futebol amador viveu grandes emoções, capazes de superar essa pequena frustração. Coquinho disse que outro fato gratificante na carreira de árbitro foi ter construído uma legião de amigos. “Em 2014 eu cheguei a participar de um curso de arbitragem oferecido pela Federação de Futebol do Acre, onde os instrutores foram pessoas qualificadas como Ronne Casas, Josemir Raulino, João Jácome e Fábio Santos e, após o curso, cheguei, inclusive, a ser convidado a fazer parte do quadro de arbitragem, mas naquela época existiam divergências envolvendo o quadro de arbitragem da FFAC e da Liga Amadora de Futebol de Rio Branco e, como fizeram algumas exigências para eu fazer parte do quadro da FFAC, eu resolvi permanecer trabalhando no futebol amador”, pontuou Coquinho.

O árbitro Edson Coquinho e demais colegas tiraram um tempinho para hidratar com água e picolé durante competição amadora. Foto/Edson Coquinho.
Na Copa Ouro de Futebol Soçaite da AABB, o árbitro Edson Coquinho aplica cartão amarelo para o experiente Baíche. Foto/Manoel Façanha

Entre uma conversa e outra durante a entrevista, Coquinho lembrou que o primeiro “VAR” no território acreano ocorreu no campo soçaite da AABB, no segundo semestre de 2019, quando de uma edição de Copa Ouro. “Lembro-me que o jogo era classificatório e cheio de jogadores veteranos que fizeram parte da história no nosso futebol. Em certo momento da partida, num vacilo da defensiva, houve uma falta dentro da grande área e resolvi aplicar a penalidade para o desespero do time infrator. A partida foi para o intervalo e você (Façanha) tinha uma foto nítida daquele lance que mostrava bem que a infração havia ocorrido dentro da área. E, contra fatos verdadeiros, não existem argumentos, tanto que resolvi mostrar aquela imagem para quem mais reclamava do lance e o jogo terminou numa tranquilidade”, lembrou sorridente Coquinho.

O árbitro Edson Coquinho intermedia duelo entre as equipes dos veteranos Vinícius Martins e Gilmar Sales, pela Copa Ouro de Futebol Supermaster da AABB. Foto/Manoel Façanha
Copa Ouro de Futebol Soçaite da AABB – 2018. O árbitro Edson Coquinho observa orientação de Jeferson da Lua (coordenador da competição). O árbitro Eilson Paiva observa o horizonte. Foto/Sérgio Vale.

Entre os momentos inesquecíveis na carreira, Coquinho lembrou um que ocorreu no campo do Oriente, no bairro da Seis de Agosto. “Eu cheguei ao local da partida e estava havendo uma confusão com a equipe de arbitragem e quando a torcida percebeu minha chegada para o jogo posterior da rodada, fui ovacionado pelos torcedores que me aplaudiram e gritavam pelo meu nome e ainda afirmavam que a bagunça tinha terminado”, disse orgulhoso o árbitro que elegeu um confronto entre Cruzeiro do Aviário e União da Isaura Parente como o mais difícil que dirigiu na carreira.

Fac símile da página de Esporte do Jornal Opinião de 15 de julho de 2022.