Que o Brasil sempre foi um país desmemoriado, creio que ninguém tem dúvida. Passado o instante, cada vez menos as pessoas se lembram dos diversos episódios. Sempre foi assim. E hoje em dia, com uma espécie de estado de “presente perpétuo”, creio que essa tendência se acentuou mais.
Quando falo de “presente perpétuo”, quero dizer que a maioria das pessoas, dada, principalmente, a velocidade dos meios de comunicação, vive basicamente o momento. Somente um ou outro tem a percepção de que o presente é feito de toda uma sucessão de situações e atitudes anteriores.
Como costumava dizer meu falecido pai Alício Pinheiro, pra brasileiro “bocado comido é bocado esquecido”. E já que estou falando em comida, quem aí lembra o que almoçou ontem, hein? Pois é. Se até o passado recente se esvai entre os dedos, imagine algo que já vai longe no calendário.
Mas, indo ao cerne da questão, esses três parágrafos que eu escrevi aí em cima foi só para lembrar que nessa quinta-feira que recém passou, dia 29 de junho, completaram-se 65 anos que o Brasil conquistou a sua primeira Copa do Mundo de Futebol, nos campos da Suécia. Alguém lembrava disso?
Pois é isso. Depois de perder as copas de 1930, 1934, 1938, 1950 (essa dentro de casa, fato que também ninguém pode esquecer, levando-se em conta que uma moeda tem sempre duas faces) e 1954, o Brasil, como dizia Nelson Rodrigues, superou o “complexo de vira-lata” lá na Europa.
O Brasil, deve-se ressaltar, sempre arranjava uma desculpa esfarrapada para as suas quedas. Em 1930, dizia-se que o time estava incompleto; em 1934, 1938 e 1954, dizia-se que os juízes garfaram a seleção; e em 1950, dizia-se que a nossa derrota fora por excesso de confiança.
Aí, quando chegou 1958, o nosso time foi para as cabeças. Com Pelé e Garrincha em campo não teve pra ninguém. Foi pancada na Áustria (3 a 0), na União Soviética (2 a 0), no País de Gales (1 a 0), na França (5 a 2) e na Suécia (5 a 2). Tropeço mesmo, só umzinho: 0 a 0 com a seleção inglesa.
Então, de lá pra cá foram outras quatro vezes que o Brasil subiu ao degrau mais alto do pódio numa Copa: 1962, no Chile; 1970, no México; 1994, nos Estados Unidos; e 2002, na Ásia. E só não foram mais vezes, creio eu, por conta das sempre imponderáveis interferências do senhor destino.
Tá dado o meu recado. Eu não estava na Suécia, nem mesmo ouvi pelo rádio, que naquele ano de 1958 eu estava com apenas um aninho de idade. Mas está tudo nas crônicas. É só uma questão de interesse pela memória. A gente só compreende o presente se souber o que aconteceu no passado!