Encantes, encantados

Estive em boa parte do domingo passado batendo pernas pelos corredores e salas do Museu do Amanhã, situado ali na Praça Mauá, na eternamente aprazível Cidade Maravilhosa. Batendo pernas e me detendo em frente a cada uma das muitas peças ali dispostas para a apreciação pública.

O Museu do Amanhã, inaugurado em dezembro de 2015, no ensejo da realização das Olimpíadas de 2016, é um espaço lindo e cheio de aspectos curiosos, debruçado sobre o Oceano Atlântico. Ponto de visita obrigatório para turistas de todas as partes do mundo que aterrissam no Rio de Janeiro.

Eu já havia ido várias vezes ao Museu do Amanhã. Mas dessa vez eu fui por um motivo especial: contemplar a exposição Encantes, do artista plástico acreano Fernando França, antigo morador da Rua João Donato, bairro do Ipase, em Rio Branco, e que hoje reside na também bela Fortaleza.

Usando a temática amazônica, os quadros (e painéis) do Fernando França estão repletos de mitos e lendas dessa parte mais a oeste do país. As águas dos rios caudalosos (ainda que isso esteja acabando) se misturam com pajés e botos voadores. Uma profusão de cores despertando os sentidos!

O Fernando, aliás, é um artista que já rompeu as fronteiras do Brasil. Anualmente ele passa meses na Europa, participando de exposições e ministrando clínicas de pintura. Oportunidade em que aproveita para degustar os mais finos vinhos que são produzidas naquela parte do mundo.

Mas tudo isso que eu disse até aqui é de conhecimento geral. Quem acompanha os personagens da cena artística acreana deve saber do sucesso do Fernando. O que eu acho que poucos sabem é que antes dessa projeção toda, quando adolescente, ele pensou em jogar futebol na posição de goleiro.

É que de estatura avantajada (o homem tem quase dois metros), um dia, em mil novecentos e lá vai pedrinha, ele e o seu vizinho Carlão, que depois virou campeão olímpico de voleibol, foram tentar uma vaguinha no juvenil do Rio Branco, cujo estádio fica bem próximo de onde eles moravam.

Segundo a galera que presenciou o dia em que o Fernando e o Carlão fizeram o teste, ambos foram aprovados. Mas, como o Carlão era mais velho, o técnico optou por este como titular. Fernando, porém, por não aceitar ser reserva, guardou o Conga na mochila, foi embora e nunca mais voltou.

Foi daí que ele, Fernando França, resolveu apostar nas artes plásticas. E deu certo. O homem migrou para o Ceará, fez um mestrado em Literatura Brasileira e passou a pintar o sete. Voa de vez em quando para o outro lado do mundo e agorinha chegou ao Museu do Amanhã. A ele toda a glória!