A historinha que eu vou contar resumidamente hoje nesta crônica me foi contada por um integrante do selecionado acreano do ano de 1957, criatura que já deixou este mundo. Dessa forma, como a tal criatura não pode mais confirmar (ou negar) os fatos, vou omitir a identidade dos personagens.
O que aconteceu foi o seguinte: a seleção acreana excursionou à Manaus e saiu fazendo “barba, cabelo e bigode” (expressão da criatura que me contou a história) nos adversários amazonenses. Tanto ganhou que o pessoal do Amazonas resolveu lançar o desafio de uma partida extra.
Como o time do Acre já se encontrava em regime de concentração há vários dias, sem sair do alojamento nem para cuspir na calçada, eis que os chefes da delegação resolveram dar uma noite de folga para os atletas. Mas uma folga controlada: todo mundo deveria voltar pra casa antes das 23 horas.
O treinador, que era uma espécie de xerife da turma e que tinha a convicção de que não podia confiar plenamente nos seus pupilos, tratou de ficar na porta do alojamento, com uma caderneta e um lápis nas mãos, anotando a volta, o horário e, naturalmente, o estado etílico da galera.
Aos poucos os craques foram voltando, uns mais alegrinhos do que os outros, mas, de qualquer forma, inteiros e prontos para a tal partida extra que os amazonenses marcaram. Aparentemente, todos cumpririam o horário determinado. Não foi isso, entretanto, o que aconteceu. Dois não voltaram.
Deu meia-noite, deu uma, duas, duas e meia da madrugada e nada dos dois caras darem o ar da sua graça. Aí o treinador foi no quarto onde dormia um terceiro jogador, parceiro dos dois que não chegaram. Apertado pelo estilo do “xerife”, o parceiro deu o serviço e disse aonde os dois haviam ido.
O lugar, no caso, era uma casa (como direi?), dessas em que homens vão em busca de uma noitada de amor pago. Ou seja, muita cachaça, muito samba e muita mulher de lábios densamente borrados de vermelho, perucas louras, afogadas em perfume “Mil e dez” e, é claro, em trajes sumaríssimos.
O treinador pegou um taxi e resolveu ir lá na casa de “má fama”, acompanhado de um dirigente, pra dar um flagrante na dupla chegada a uma boêmia. O lugar nem era assim tão longe do alojamento. Coisa de três quadras. E menos de cinco minutos depois já estavam entrando no lupanar.
Não foi difícil achar a dupla retardatária. Os dois se encontravam rodeados de mulheres, com as camisas abertas, rindo alto e soltando baforadas de charutos para o ar. Quando o xerife se aproximou, os craques disseram: “Mas professor, que surpresa, o senhor também gosta disso?”