Todo mundo sabe que a capital do Equador é sempre Quito. Todo mundo sabe, mas não é aconselhável que essa frase seja dita (ou lida) de forma rápida. Localizada a quase três mil metros de altitude, Quito é a segunda capital mais alta do mundo. Só perde para a boliviana La Paz.
Pois é nesse lugar a meio caminho das nuvens que a seleção brasileira vai jogar nesta quinta-feira (27). Como a gente sabe que jogar numa altitude dessas não é pra qualquer um, provavelmente esse fato servirá de desculpa para o caso de o time do Brasil perder a invencibilidade nas eliminatórias.
Outra desculpa, caso o Brasil leve um couro do Equador, é o fato de que a seleção verde e amarelo já está classificada para a Copa do Catar. Até aqui, muito mais pela fraqueza alheia do que pelos próprios méritos, os brasileiros passearam nas eliminatórias: 13 jogos, 11 vitórias e dois empates.
É verdade que a altitude faz uma diferença enorme para quem não está acostumado com ela. Eu sou testemunha disso. Já estive em duas cidades bem no alto do morro: Cusco, a 3.400 metros acima do nível do mar; e La Paz, a 3.640 metros. Respirar é um ato de resistência numa altitude dessas.
A minha experiência em La Paz foi terrível. Alguns minutos depois que eu desci do avião o mundo literalmente girou ao meu redor. Tive que me sentar por um bom tempo e beber um pote de chá de coca para minimamente recuperar a respiração. Passei cinco dias andando devagar como um jabuti.
Em Cusco, já com alguma experiência na montanha, o sofrimento foi um pouco mais ameno. Descobri um comprimido chamado Sorojchi Pills que me obrigou a dormir por algumas horas e depois me fez passar bem nos dias sequentes. Os antigos deuses incas correram céleres em meu socorro.
Também é verdade que um time que já está classificado para a etapa seguinte de uma competição pode perder o interesse na disputa. Já cansei de ver times cujas partidas se transformaram em amistosos de luxo diminuírem o ímpeto contra adversários que jogam a vida. De forma até inconsciente.
Nem uma coisa nem outra, porém, nesse caso do jogo do Brasil contra o Equador, no meu entender, me soam como argumentos definitivos para justificar um eventual resultado negativo. A diferença entre as duas seleções é muito grande. Pelo menos na tabela de classificação para a próxima Copa.
Resumindo a ópera: se a seleção brasileira quiser continuar com o apoio dos seus torcedores, não pode deixar a seleção do Equador se criar. Como diz o poeta, “para o rio tudo é hoje”. Quem for podre vai se arrebentar. E quem está na chuva é pra se molhar (ou seria pra “se queimar?”). Diga aí.