Estádio de Santiago, sede da Copa América 2015, conserva intacta área da arquibancada como memória aos presos políticos mantidos no lugar no regime do general Pinochet.
O estádio chileno será a principal sede da Copa América do ano que vem, programada de 11 de junho a 4 de julho – o sorteio dos grupos acontece em 27 de outubro próximo.
O local foi usado logo após o golpe militar no Chile, em 1973, como prisão, espaço de interrogatório, tortura e até morte – mais de 40 mil perseguidos políticos passaram pelo complexo (inclusive brasileiros).
Quando ingressei no estádio reformado, observei um cercado quadrado à beira do gramado atrás do gol à esquerda das cabines de rádio e TV. O lugar destoava do restante pela falta de assentos, com o concreto aparente e envelhecido.
Procurei o zelador que abriu as portas para que eu pudesse entrar nas dependências do estádio inaugurado em 1938 e sede da Copa do Mundo de 1962. Achei que ali destinava-se a alguma torcida de um clube local. Mas o senhor apontou para o cercado e me disse tratar-se de trecho da arquibancada onde presos políticos tomavam banho de sol. Em seguida, acrescentou que no parque aquático do complexo era o lugar onde as mulheres foram torturadas.
O complexo do Estádio Nacional sofreu nos últimos anos sua maior reforma pós-ditadura militar (1973-1990). Na primeira fase das obras de melhoria, inaugurada em 2010 (a segunda fase das obras terminou no início desse ano), uma área de 180 m² da arquibancada foi cercada com grade de ferro, mantendo-se no seu interior a antiga estrutura, para lembrar que no local se cometeu uma das maiores violações de direitos humanos do País – o memorial tem o nome de “Escotilla 8” (referência à porta de acesso ao estádio de detidos pelo regime militar).
Poucos guardam com tanta contundência como o Chile a memória dos tempos de horror da ditadura militar. O Museu da Memória e dos Direitos Humanos na capital chilena expõe bem o que foi o período do governo Pinochet e é difícil percorrer o ambiente sem conter as lágrimas: depoimentos de mulheres e filhos de desaparecidos; cartas de presos políticos e exilados; além de vídeos e imagens da violência do golpe e da repressão. Um panorama dramático e triste da história do continente.
Nos protestos do ano passado no Brasil, movimentos chegaram a pedir à volta dos militares ao poder. O Chile é a maior reflexão do significado dessa imensa tolice.
Augusto Diniz