A vã filosofia que nos cerca explica que, além das coisas que ninguém sabe sobre o espaço entre o céu e a terra, tudo vive junto e misturado nesse mundão de meu Deus. E que, assim sendo, uma atividade se vale de várias outras para desenvolver as suas próprias terminologias. Vocês entenderam?
O que eu quis dizer no parágrafo acima, trato logo de explicar antes que alguém venha pensar que o charuto cubano que eu baforei ontem à noite estava estragado, é que nada se cria. Tudo se adapta ou se copia (como pregava o palhaço Chacrinha), dependendo das mais variadas circunstâncias.
Essas elucubrações me vieram à cabeça por conta de uma expressão que eu ouvi de um narrador de futebol. Lá pelas tantas, ante a volúpia com que um jogador disputou uma bola, o sujeito tascou o seguinte: “Fulano está com a corda toda. Está indo na bola como quem vai num prato de comida”.
Ir na bola como quem “vai num prato de comida” lembra outras expressões do mundo do futebol ligadas à mesma metáfora. Caso de quando se diz que o sujeito “tá com fome de bola”. Ou seja, disposto mais do que sempre. Ou então, quando o cara não passa a bola e o chamam de “fominha”.
Mas o aspecto da vida que mais empresta expressões ao futebol, penso ser o da arte da guerra. Veja-se, por exemplo, que os jogadores cujas funções são mandar a bola para o fundo das redes, a esses se chamam “atacantes”. Atacar o reduto “inimigo” e “furar as defesas” é a missão dos atacantes.
E os goleadores, nessa linha de raciocínio, denominam-se de “artilheiros”.A artilharia, só lembrando, é uma palavra emprestada dos exércitos. Isso desde tempos imemoriais. Os caras que manejavam os canhões nas antigas escaramuças de guerra, esses eram os tais artilheiros.
Por outro lado (célebre frase inventada por Napoleão Bonaparte nas suas aventuras com Josefina), mas continuando na mesma linha de raciocínio, um zagueiro daqueles “linha dura”, daqueles que bate primeiro pra só depois pedir os documentos, este é denominado de “carniceiro”.
Zagueiro desse tipo do “escreveu, não leu, o pau comeu”, costuma dizer nas suas rodas de conversa que “atacante bom é atacante morto”. E que, “no caso da bola passar, o atacante tem que ficar”. O prazer desse cara é ver estendido no chão o corpo do atacante metido a besta, mortinho da Silva!
É isso. Vamos continuar assistindo o futebol pela televisão enquanto a “gripezinha” estiver por aí. Vidas negras importam! Vidas brancas, amarelas e vermelhas importam! O futebol pega expressões emprestadas em tudo que é lugar. Pra mim, a violência tem que acabar, nem que seja na bala!