Em 20 anos de dedicação ao futebol profissional, entre 1995 e 2014, o goleiro Márcio Figueiredo Gonçalves, o popular Faísca, vestiu as camisas de quase todos os times acreanos. A exceção, de acordo com o relato dele, fica por conta de Galvez e Independência. “Eu acho que não são muitos os atletas que podem ostentar tantas camisas no seu currículo”, afirmou ele.
Desde as primeiras participações em partidas de futebol, nos torneios de intercalasses da Escola José Sales de Araújo, no Conjunto Universitário, a agilidade dele lhe rendeu o apelido que o tornou Faísca para a vida. “Eu era muito rápido mesmo, tanto para me jogar nas bolas chutadas contra o meu gol quanto para sair ao encontro dos adversários”, revelou o ex-goleiro.
A chegada a um time de futebol profissional se deu no primeiro semestre de 1995, quando Faísca estava com 17 anos (ele nasceu no dia 7 de agosto de 1977). “Eu jogava no Delta e o nosso time foi fazer um amistoso contra o Juventus. Fizemos um jogo duro e, ao final, eu e o atacante Adriano Louzada fomos convidados para ficar no Clube da Águia”, disse Faísca.
Depois desse primeiro momento no Juventus, entre idas e vindas, contabilizando-se equipes de juniores e times principais, Faísca defendeu os seguintes clubes: São Francisco, Atlético Acreano, Vasco da Gama, Plácido de Castro, Andirá, Rio Branco, Adesg, Amax, Náuas e Alto Acre. E antes até de pendurar as chuteiras, ele ensaiou os primeiros passos como treinador.
Dores lombares derrotaram o goleiro
Faísca não tinha a intenção de pendurar as chuteiras antes dos 40 anos. Mas esse projeto foi frustrado quando ele começou a sentir terríveis dores lombares. Os muitos anos se submetendo à atividades físicas intensas cobraram o preço. E então, no campeonato de 2014, embora ainda tenha jogado algumas vezes, ele começou a assumir o comando técnico do Vasco.
“Eu comecei a carreira de treinador atendendo a um convite do dirigente vascaíno Lobinho. Aí acabei pegando gosto pela coisa. E depois disso, já tive a oportunidade de treinar o Independência, o Humaitá e o Plácido de Castro. Atualmente eu trabalho como treinador de goleiros do São Francisco. Eu diria que o futebol está no meu sangue”, declarou Faísca.
Ainda com poucos títulos na condição de treinador (ele conquistou apenas a segunda divisão de 2016, à frente do Humaitá), Faísca foi campeão acreano de futebol profissional quatro vezes, como jogador. Em 1995 e 1996, na condição de reserva, ele foi bicampeão pelo Juventus. Já em 1999 e 2001, ele alternava a titularidade no Vasco com Railton (1999) e Ferreira (2001).
No final das contas, são quatro títulos e muitas lembranças. Umas boas e outras nem tanto. Entre as boas, Faísca falou de uma defesa, numa cabeçada à queima-roupa, desferida por um atacante chamado Adil, num jogo entre Vasco e Castanhal-PA. E entre as lembranças ruins, o ex-goleiro disse que não esquece um frango que tomou jogando pelo Náuas contra o Rio Branco.
Nomes em destaque e um perrengue
Faísca não hesitou em destacar os nomes dos maiores dirigente, técnico e árbitro do futebol acreano. Ele apontou, respectivamente, os nomes de Raimundo Ferreira (“porque sempre trabalhou com seriedade pelo futebol”), Marcelo Altino (“pela capacidade de falar a mesma língua dos jogadores”) e Marcos Café (“pela dignidade com que se conduzia no apito”).
E no que diz respeito a uma seleção dos melhores jogadores do seu tempo, ele escalou o seguinte time: Klowsbey; Ley, Carlos, Chicão e Ananias; Ismael, Mundoca e Testinha; Doka Madureira, Juliano César e Marcelo Brás. “Todos esses caras foram craques de bola. Um time com essa formação certamente jogaria um futebol de altíssimo nível”, garantiu Faísca.
O ex-goleiro também fez questão de ressaltar que as dificuldades são imensas para se fazer futebol na periferia do Brasil. E usou como exemplo um jogo do Vasco contra o Ji-Paraná, pela série C de 1999. “Nós ficamos três dias na estrada, comendo apenas bolachas Miragina e tomando [suco] Tampico. E ainda dormimos no chão de uma rodoviária”, contou Faísca.
Quanto aos planos para o futuro, Faísca disse que não consegue se ver desligado do futebol. “Eu espero que essa pandemia passe logo e que o futebol volte ao normal. Quando isso acontecer, um dos meus próximos passos será no sentido de me matricular num curso que possibilite a minha formação teórica para melhor exercer a função de treinador”, finalizou.