Não é novidade a falta de profissionalismo nos clubes. O problema é que isso tem reflexos diversos. Um deles é na formação de atletas, uma necessidade premente para resgate do futebol brasileiro e de sua própria sobrevivência.
Os respingos do amadorismo nas equipes de cima para a base vão desde a má gestão do dinheiro e contratações mal realizadas a custos elevados, até as constantes mudanças no comando da equipe principal, pois é essa liderança que impõe o ritmo de aproveitamento de talentos da turma debaixo no time profissional.
A falta de administração adequada do recurso que entra impede a manutenção de jovens nos times sub-15 e sub-17, ressabiados com os constantes problemas. Se o recurso lá em cima é desperdiçado, embaixo ele poderá chegar de forma ainda mais escassa e comprometida – trata-se um pensamento óbvio.
Um clube pode ter ótima seleção de atletas escolhidos em escolas e torneios de várzea, mas se não conseguir oferecer o mínimo de condições ao adolescente para treinar, corre risco de perdê-lo. Isso foi o motivo que facilitou a presença de empresários “donos” de jogadores.
Eles passaram a prover à futura promessa o que a agremiação não estava sendo capaz de oferecer. Só que isso deu muito poder a eles, gerando as já conhecidas distorções na relação entre atletas e os clubes de futebol.
Por outro lado, não é fácil para um time manter jovens em casa sem saber se ele vai dar certo. Precisa dar alojamento e alimentação, quando este menino tem mais de 14 anos e vem de outra região que não seja da sede da agremiação.
Quando eles são da mesma localidade, não tira a responsabilidade de manter não somente treinadores de futebol, mas nutricionistas, fisioterapeutas e assistentes sociais para atendê-los. Tem ainda a manutenção da estrutura, o que inclui campos de futebol, vestiários, academia e áreas de preleção e recreação.
Mas é possível com planejamento de os clubes terem as mínimas condições de fazer da base um caminho de construção de sua equipe profissional. Porém, acima de tudo, precisa ser menos imediatista e imaginar que esse investimento pode ter retorno a médio e longo prazos.
O que não dá é trabalhar com a ideia de resolver o projeto do dia para a noite. Não há milagre em montar grandes times desse jeito. Gasta-se muito, com alto risco, em tempos de dinheiro escasso e pouco talento de fato disponível no mercado.