MANOEL FAÇANHA
O fato de o Flamengo, o Vasco da Gama, o Fluminense e o Botafogo terem realizado algumas partidas do Campeonato Carioca 2024 fora do Rio de Janeiro, precisamente no Norte e Nordeste do país, me fez lembrar a política que alguns clubes brasileiros adotavam em determinadas temporadas para buscar receita com jogos amistosos além dos limites territoriais de seus estados.
Um desses fatos ocorreu às vésperas da Copa do Mundo da Espanha, em 1982, quando a cidade de Rio Branco-AC recebeu três clubes do estado fluminense: Flamengo, Bangu e Vasco da Gama. A presença desses clubes, com seus astros consagrados na região sul da Amazônia para amistosos, era uma ferramenta que fortalecia a identidade da agremiação com o torcedor local e ainda contribuía com o caixa do clube para o restante da temporada.
Foi, também, naquele ano de Copa do Mundo, que o Conselho Nacional de Desportos (CND) autorizou os clubes profissionais a utilizarem publicidade em seus uniformes, com exceção de fumo, bebidas alcoólicas e jogos de azar.
Com gols no 2º tempo, Fla supera o Rio Branco: 3 a 0
Com a possiblidade de acerto com a montadora de automóveis Toyota para estampar a marca na camisa do rubro negro carioca, a equipe comandada pelo auxiliar técnico Modesto Bria, em substituição ao titular Paulo César Carpeggiani, entrou no gramado do Stadium José de Melo, com a seguinte formação: Raul; Djalma, Marinho, Figueiredo e Antunes; Vitor, Andrade, Tita, Popéia (Edson), Nunes (Reinaldo) e Lico. Lembrando que o lateral esquerdo Júnior e o meia Zico não estiveram presentes no amistoso pelo fato de estarem servindo à seleção brasileira. Outra baixa foi o meia Adílio.
A partida transcorreu com o gramado pesado e escorregadio. O Rio Branco buscando o equilíbrio da partida diante de um adversário tecnicamente bem superior e com mais poder de “fogo”. No entanto, apesar de algumas oportunidades de gols criadas pelos dois lados, o confronto foi para o intervalo sem abertura de contagem.
Na etapa complementar, o rubro negro carioca, com as entradas de Reinaldo e Edson, ganhou mais mobilidade na linha de frente e marcou três gols. O primeiro deles anotado pelo atacante Tita, num lance bastante questionado pelo time estrelado, que pedia impedimento, aos 19 minutos.
Nos dez minutos finais o Flamengo liquidou a fatura. Reinaldo escorando cruzamento de Edson, aos 35 minutos, marcou o segundo gol. O terceiro, o mais bonito do amistoso, saiu dos pés do atacante Lico, aos 41 minutos. O jogador rubro negro fez festa na defesa estrelada, inclusive, driblando o goleiro Klowsbey.
Naquela noite histórica, o Rio Branco foi a campo com a seguinte formação: Klowsbey; Tonho, Eco, Nivaldo e Zuza; Mário Sales, Genilson e Dionísio; Roberto, Gil e Edmilson. O árbitro da partida foi o senhor Antônio Soares, enquanto Rivaldo Soares e Eliérsio Gomes foram os assistentes. O número de pagantes não foi divulgado e a renda ficou em torno de Cr$ 8 milhões, sendo que 6 milhões foram para o Flamengo, que em abril daquele ano havia conquistado o Campeonato Brasileiro, após vitória por 1 a 0 sobre o Grêmio, gol de Nunes.
Bangu perde jogo e invencibilidade de 19 partidas no AC
Com os badalados Moisés, Marco Antônio, Mococa, Rubens Feijão e Mirandinha, o Bangu chegou ao Acre com uma invencibilidade de 19 partidas sem derrotas na temporada de 1982. O primeiro adversário da equipe carioca foi o Juventus, então campeão acreano, que venceu por 2 a 1.
Melhor na partida, o Juventus abriu o caminho da vitória com o lateral/zagueiro Mauro, após assistência de Antônio da Loteca.
Na etapa complementar, o Bangu deixou tudo igual no placar, numa conclusão no jogo aéreo de Antônio Lira, após cruzamento de Toninho.
O Juventus mostrou personalidade e chegou ao gol da vitória, aos 18 minutos. Carlinhos Bonamigo cruzou, o zagueiro Lauro tentou tirar e o goleiro Tião fez a defesa, mas, o meia Carlinhos Bonamigo dividiu com o goleiro e a bola acabou no gol dos visitantes.
O Juventus venceu o Bangu com a seguinte formação: Carlos Alberto Xepa; Mauro, Neórico, Paulão e Paulo Roberto; Mariceudo, Tom e Carlinhos Bonamigo; Paulinho, (Vidal), Batalha (Pingonça) e Antônio da Loteca.
O time de Moça Bonita perdeu com a seguinte formação: Tião; Toninho, Lauro, Júlio César e Marco Antônio; Mococa, Ailton Lira (Índio) e Rubens Feijão; Mirandinha (Renato), Wagner e Marcelino (Vilmar).
Bangu carimba as faixas do Independência
No segundo amistoso do time de Moça Bonita no Acre, a equipe, mesmo com ausência do zagueiro Moises, do goleador Wagner e Renato, tratou de carimbar as faixas do Independência-AC. Toninho e Mirandinha marcaram os gols do time do Moça Bonita.
Antes de a bola rolar, o então presidente da Federação Acreana de Desportos (FAD), Adel Derze, entregou a taça de campeão do Torneio do Povo ao goleiro José Augusto, capitão do Independência.
A renda da partida somou mais de Cr$ 2,5 milhões. O Bangu venceu com a seguinte formação: Tião; Júlio César, Rener (Índio), Lauro e Marco Antônio; Rubens Feijão, Mococa e Lira; Toninho, Mirandinha e Vilmar. O Independência foi a campo com: Milton; Pintão, Lécio, Roberto e Marroco; Tadeu, Nei (Isac) e Dadão; Rose, Salvador e Neivo.
Claudio Adão marca e Vasco supera o Rio Branco
O terceiro clube carioca a pisar em solo acreano naquele ano de Copa do Mundo, foi o Vasco da Gama. O Gigante da Colina trouxe seus principais jogadores para a partida no Acre, inclusive, o atacante Roberto Dinamite, principal jogador do elenco do time de São Januário. O duelo interestadual fez parte dos festejos do 20º aniversário de emancipação política do estado e, também, das festividades do 63º aniversário de fundação do Rio Branco.
A partida terminou com vitória minúscula do Vasco da Gama por 1 a 0, gol de Cláudio Adão, aos 24 minutos do segundo tempo. O Gigante da Colina foi a campo com a seguinte formação: Mazzaroppi; Serginho, Nei (Rondinelle), Ivan e Gilberto; Dudu, Ernani e Cláudio Adão; Catinha (João Carlos), Roberto Dinamite e Marquinhos. Técnico: Antônio Lopes. Por outro lado, o Rio Branco, do técnico paraense Osvaldo Dahas, formou com: Klowsbey, Marquinhos, Dionísio, Livaldo e Zuza; Mário Sales (Maurício), Amauri (Tonho) e Genilson; Roberto, Gil Edmilson.
O jornal Diário do Acre divulgou na edição do dia seguinte ao jogo, a lista dos melhores da partida e a renda do amistoso. Confira: Mazzaroppi, Dudu, Ernani, Cláudio Adão e Marquinhos (Vasco); Klowsbey, Marquinhos, Livaldo, Mário Sales, Genilson; Roberto e Edmilson. Já a renda do confronto ficou na cifra de R$ 4,2 milhões de cruzeiros.
Conforme o Diário do Acre, um cartola estrelado teria influenciado na escalação do Rio Branco naquele do mês de junho de 1982. O time estrelado iniciaria a partida com Mauricinho no lugar de Mário Sales, mas a escalação divulgada pelo treinador teria sido modificada no chamado apagar das luzes e, no dia seguinte, o técnico, insatisfeito, pediu demissão do cargo, algo prontamente atendido pelo presidente Sebastião de Melo Alencar. O certo da história é que o volante Mário Sales esteve entre os melhores atletas daquela partida.
Pra fechar a história desse amistoso, o atacante Roberto Dinamite acabou convocado para substituir o atacante Careca na Seleção Brasileira. O fato, segundo o jornal Diário do Acre, teria ocorrido momentos antes do amistoso contra o Estrelão.