A histórica dificuldade do jogador brasileiro de futebol se posicionar sobre questões extracampo criam problemas diversos. O primeiro a ser atingido é ele próprio.
O futebol sempre foi braço do poder vigente, do establishment, da vontade de gente graúda de controlar – além da ordem ideológica, econômica, política e legal – também o esporte que mexe com a paixão de milhares. Isso não é um problema só aqui, mas no mundo – vide os inúmeros políticos que assumem posições estratégicas em clubes da Europa.
Mas no Brasil ganham ares mais dramáticos por conta de nossos graves problemas sociais. Assim, o jogador acaba sendo usado dentro do sistema de influência sem saber ou com sua complacência e apoio.
E ele faz isso, por vezes, pelo instinto de sobrevivência, pela necessidade de abrir espaço num mercado conhecidamente competitivo e cruel. É compreensível que atletas mais jovens acabem caindo nessa teia mais facilmente. Afinal, estão em início de carreira e precisam ainda se firmar, para ter seu espaço reconhecido – ainda que tenham que aparecer (para ser fotografado) em eventos ao lado de dirigentes com os quais não tem a mínima afinidade de vida.
Atletas de clubes menores, mesmo maduros, também vivem essa gangorra. A questão talvez seja a luta pelo emprego mesmo, em uma carreira curta, onde se precisa ganhar o máximo possível para sobreviver o restante da vida com alguma dignidade.
Porém, tudo isso não devia impedir o atleta de ficar absolutamente mudo aos problemas que o cercam. A falta de expressar seus reais sentimentos e desejos fora dos gramados – para não perturbar a ordem vigente imposta pelo poder que domina o clube – terminam minando qualquer exercício de cidadania.
Como o jogador não tem hábito de se manifestar, estabelece uma parede difícil de transpor quando precisa ou quando quer. Acaba perdendo rápido apoio ou não tendo força suficiente para avançar.
A argumentação de mudança e sua efetiva realização não é algo que se constrói da noite para o dia. Ele é um conjunto de fatores convergentes, repetidos diuturnamente e de forma crescente, por cada vez mais pessoas, para se transformar em resultado.
Recentemente, a criação do Bom Senso F.C. tentou dar alguma voz aos jogadores, mas sucumbiu atropelado pelo establishment que controla o futebol brasileiro, associado as dificuldades dos próprios atletas transporem discursos além do trivial dito em entrevistas antes e depois dos jogos.
Nessa toada, não deve-se esperar grandes manifestações dos jogadores brasileiros sobre estas eleições. Muito menos que ele diga algo que poderá contrapor a ordem política vigente por quem controla o futebol dentro dos gabinetes.
Em geral, somente se manifesta quem vai impulsionar os ventos dos operadores do esporte, como já aconteceu com Felipe Melo, do Palmeiras, entre outros. Um verdadeiro desastre!