Futebol precisa mudar também fora de campo

Fico imaginando o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, vibrando com a goleada da seleção sobre a Argentina, e abrindo os jornais no dia seguinte com a satisfação de dever (por ora) cumprido.

A exaltação seguirá por dias a fio nos programas esportivos. A repetição dos gols e os intermináveis debates semelhantes à mesa de bar concluirão o óbvio: Neymar é fundamental ao time. É o Brasil de volta ao prumo, com Tite no comando.

Ainda é cedo, mas as longas eliminatórias da Copa do Mundo expõem com clareza do que se pode esperar de uma equipe nacional nas grandes competições. A chacoalhada foi importante e positiva, com o afastamento de atletas desgastados com a torcida e de pouca vontade de se renovar e encarar uma nova realidade, por outros ainda em busca de algum lugar ao sol.

De dentro de campo o futuro se desenha melhor, mais promissor. Porém, jamais como antes, mas formou-se uma equipe digna para representar à altura a seleção brasileira.

Isso, no entanto, não apaga a necessidade de transformação e mudança fora de campo do futebol brasileiro. A começar pelo próprio Del Nero, que deve estar indisfarçavelmente alegre hoje no País da impunidade. Sabe que provavelmente será cada vez menos criticado, enquanto a seleção estiver agradando, principalmente patrocinadores e a televisão que paga caríssimo pelos jogos da CBF.

Não se pode perder de vista que fora de campo é preciso criar mecanismos de incentivo à formação de atletas nos clubes, valorizar a base e evitar a evasão permanente de jovens atletas brasileiros para o exterior.

Um calendário mais adequado, nacionalizado e não centrado apenas em atender os times da região Sul-Sudeste, onde os problemas são menores (não necessariamente poucos), também é algo imprescindível. Acreditar que facilitando a vida de Flamengo, Corinthians e outros poucos, já será suficiente, é estreito demais. Precisa-se encontrar um jeito de trazer o Norte-Nordeste, um celeiro de craques, para dentro da estrutura maior do futebol brasileiro.

Acabar com a impunidade e a leniência das autoridades com a irresponsabilidade dos dirigentes, será o caminho para pavimentar algo mais perene, consistente e com menos percalços à frente.

Seleção vencedora é uma ótima notícia, mas não deve apagar os descalabros ocorridos nos últimos anos. O 7 x 1 ainda dói muito. E ele não foi um problema só de dentro de campo.