Garrincha e o medo do lateral

Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, o glorioso Atlético Clube Juventus (de saudosa memória) costumava promover grandes celebrações pelas passagens dos seus aniversários de fundação. Celebrações estas tanto do ponto de vista social quanto esportivo.

No que diz respeito às comemorações sociais, sempre acontecia um baile, com o conjunto Os Bárbaros, para o qual era convidada a fina flor da comunidade de Rio Branco. Os convites, escassos, uma vez que a sede do clube não comportava muita gente, eram, deveras, pra lá de disputados.

No tocante às celebrações esportivas, a direção do Juventus, liderada pelo professor Elias Mansour, costumava convidar craques do futebol brasileiro que já haviam pendurado as chuteiras. Então, sucessivamente, o Juventus convidou os campeões mundiais Nilton Santos, Vavá e Garrincha.

Eles não chegaram ao Acre ao mesmo tempo. Cada um deles foi convidado num ano diferente. Nilton Santos, lateral-esquerdo, o primeiro dessa posição a subir ao ataque, participou das comemorações de 1968. Vavá foi o convidado de 1969. E Garrincha deu o ar da sua graça no ano de 1973.

De todos esses três citados, Garrincha foi o que causou maior euforia entre os torcedores. Era natural que fosse assim, levando-se em conta tudo que o “gênio das pernas tortas” havia aprontado pelo mundo na sua carreira de jogador. O cara era, simplesmente, imarcável. Nenhum zagueiro o parava.

Garrincha fez dois jogos: o primeiro foi entre Independência x Atlético Acreano; o último foi entre Juventus x Rio Branco. Em cada jogo, o lendário camisa sete jogou um tempo por cada time. Jogou e “barbarizou” com três das quatro camisas: as do Atlético Acreano, do Independência e do Juventus.

Estranhamente, quando jogou pelo Rio Branco, contra o Juventus, cujo lateral era o Antônio Maria, Garrincha teve uma atuação bem discreta. Em nenhum momento foi pra cima do lateral juventino. Na época disseram que o gênio ficara com medo do Antônio Maria e preferiu jogar longe deste.

Eu fui um dos torcedores que acreditou na história de que Garrincha havia preferido ficar longe do Antônio Maria com medo de não conseguir levar vantagem sobre o dito cujo. Antônio Maria era um lateral de ótima técnica. Então, eu achava que ele devia mesmo ter amedrontado o Garrincha.

Eis que, porém, um dia desses o Antônio Maria me contou o que foi o “medo do Garrincha”. É que o gênio foi visitado no hotel pelo dirigente Elias Mansour, antes do jogo, e este pediu para ele “amaciar” para o lateral. Então, ficou tratado que cada um dos dois “ganhava” uma bola. E assim foi feito!