Gênios indomáveis

Sobre o gênio que foi o argentino Diego Maradona com uma bola nos pés, todo mundo sabe. Difícil acrescentar alguma coisa a tudo o que já foi dito nesse aspecto. Igualmente, sobre as tolices que ele fez na vida fora dos campos, todo mundo sabe. E também quase nada a isso se pode acrescentar.

Separando-se, entretanto, uma coisa da outra, o certo é que ele será eterno nas memórias de todos os que puderam vê-lo em ação, seja de forma presencial, seja pela telinha da televisão. Os tapes sobrevivem nas infovias para o deleite de todos os que apreciam a intimidade do homem com a bola.

E é certo, igualmente, que ele, ao se despedir da vida no meio dessa semana que passou, saltando para o abismo da metafísica, o fez de maneira extremamente prematura. Provavelmente Diego pudesse ter uma existência física bem mais longeva se não tivesse agredido tanto o próprio corpo.

Entretanto, a bem da verdade, devo dizer que Maradona não foi o único gênio do mundo do futebol que perdeu a vida muito cedo por conta dos excessos cometidos. Enquanto escrevo, lembro de pelo menos três outros: o norte irlandês George Best e os brasileiros Sócrates e Garrincha.

George Best foi um atacante que marcou época no futebol inglês nas décadas de 1960 e 1970. Era tão habilidoso que chegou a ser comparado ao próprio Maradona, a Pelé e ao holandês Johan Cruijff. Fora de campo, porém, sua compulsão pelo álcool era incontrolável. Morreu aos 59 anos.

Sócrates, o genial meia armador do Corinthians (e da seleção brasileira e da Fiorentina) que deslumbrou as torcidas de vários estádios, principalmente com o seu desconcertante toque de calcanhar, também jamais escondeu de ninguém o seu gosto por bebida e noitadas. Morreu aos 57 anos.

E Garrincha, aquele ponteiro endiabrado do Botafogo que ajudou o Brasil a conquistar duas copas mundiais, aquele que nunca soube o nome de nenhum dos seus marcadores (ele chamava a todos de “João”), morreu mais jovem ainda, aos 49 anos, abatido por litros e litros da mais pura cachaça.

Citei esses três grandes gênios do futebol mundial, mas, é claro, existem muitos outros casos. Em cada estado da federação brasileira, em cada liga nacional dos mais diversos países, existem casos e mais casos dessa natureza em que as atitudes dos craques os faz falecerem prematuramente.

No final das contas, o que me ronda o pensamento é que todos os gênios tem a sua porção humana, as suas neuroses, que a gente teima em não entender. Tensões essas que permanecem escondidas dentro da própria angústia de cada um deles. Nossos ídolos, que Deus os tenha na sua glória!