O impedimento da Federação Paranaense de Futebol, provavelmente a mando da Globo, de transmissão pelo Youtube do jogo entre Atlético-PR e Coritiba pelo estadual, é tão anacrônico como achar que boa parte da mídia impressa não será engolida pela internet. A emissora e a FPF acertaram os direitos do campeonato sem tratar adequadamente com os donos do espetáculo – os clubes, que foram atrás de melhor retorno financeiro.
O Flamengo já havia no início deste ano feito jogo duro com a Globo e cobrou para o campeonato estadual mais pelos direitos de imagem do que os outros times grandes cariocas, e ainda pediu para que o dinheiro não passasse pela Federação de Futebol do Rio. E foi atendido.
A Globo corre para manter o produto futebol na casa com exclusividade – considerado um dos poucos a ter espaço na grade da TV no futuro próximo, por conta da internet (cita-se que na Europa a transmissão no Youtube de partidas de futebol já é uma realidade); e os clubes sabem disso.
A emissora já vem levando sufoco do Esporte Interativo, do grupo americano Turner, que saiu negociando com vários clubes grandes e médios, para tentar quebrar o monopólio da Globo na transmissão dos jogos no Campeonato Brasileiro de 2019 em diante pelo canal por assinatura. O Santos, Internacional e Palmeiras são alguns já fechados com o Esporte Interativo.
Os escândalos recentes envolvendo a CBF em contratos desse tipo também criaram alerta nos clubes de que poderiam estar sendo passados para trás – com agentes da Globo envolvidos, como J. Hawilla. Com isso, as negociações de transmissão de futebol ficaram mais rigorosas no Brasil e elevou o valor das ofertas.
A questão é saber agora se a Globo honrará os acordos que fechou recentemente com clubes grandes em períodos relativamente longos, em um momento de severa recessão econômica. Houve pressão dos times por mais dinheiro nas diversas competições, com muitos desses acordos com antecipação de recursos. O Corinthians, quando assinou o acordo ano passado com a Globo de contrato de transmissão que valeria a partir de 2019, pegou uma antecipação para quitar a folha de pagamento atrasada.
O relatório de Romário da CPI do futebol, divulgado no final do ano passado, a despeito da conhecida fanfarronice do senador, é um trabalho acima da média. No capítulo “Democratização das Imagens do Futebol”, o documento aponta que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analisa, desde maio de 2016, a legalidade do monopólio das transmissões pela Rede Globo de Televisão. A exclusividade abrange os principais campeonatos regionais e nacionais, com pacotes para os clubes de longo prazo.
“Há muito, o noticiário denuncia irregularidades no processo, com infrações que limitam a participação democrática de outras emissoras na concorrência por imagens do futebol, infringindo o princípio da livre concorrência. Além disso, as denúncias são no sentido de que as transmissões garantem exclusividade não só para a TV aberta, mas para a TV paga e internet”, informa o documento.
Em outro trecho, o relatório esclarece que a “livre-concorrência é princípio democrático que não pode ser ignorado; além disso, a concorrência legal sugere a valorização das transmissões com efeitos diretos de interesse dos clubes”.