Dizem os gramáticos e filólogos de todas as cores e filiações que uma língua somente pode se manter viva quando em estado de constante mutação. No momento em que um sistema linguístico deixa de se transformar, adquirindo novas expressões e largando outras de lado, ele chega ao fim.
Foi pensando nisso que eu fiquei por esses dias, enquanto olhava para o oceano Atlântico, nas beiradas da sempre ensolarada Fortaleza, num tanto de expressões do mundo do futebol que ninguém mais usa. Muita gente sequer sabe o que elas (as expressões) significam (ou significaram um dia).
É o caso, por exemplo, da expressão “no tempo do tuba”. Ganha uma camisa do Cuiabá-MT, ou do Guarani-SP, ou do São José-RS, ou do Humaitá-AC (os lanternas das séries A, B, C e D de 2024, respectivamente) quem acertar. Ganha uma camisa e uma bola sem a devida calibragem.
Numa das minhas crônicas passadas, aliás, quando eu usei essa tal expressão “no tempo do tuba”, precisei “traduzir” para um ex-aluno meu cuja única referência ao (ou à) tuba era a do instrumento musical da ordem dos metais, inventado para preencher regiões de sonoridades das mais graves.
“Dar um tuba”, nos antigamente, significava “dar um chutão pra frente”. Funcionava bem, principalmente para os defensores que não tinham muita intimidade com a bola. Se o domínio da “deusa branca” era pífio e o risco de ser desarmado era grande, o jeito era jogar mesmo na base do “tuba”.
No futebol acreano da época do amadorismo existia uma turma de zagueiros que só jogava assim. Mesmo que houvesse um companheiro bem colocado ao seu lado, os caras metiam o pé com vontade, para qualquer lugar em que o nariz estivesse apontando. Os atacantes que se virassem na frente.
Cito alguns desses “tubeiros” (neologismo criado agorinha) do futebol acreano, que eu lembro enquanto escrevo: Abrahão e Zé Palito (Floresta); Viana e João Cutia (Andirá); Deca, Otávio e Praxedes (Independência), Pincel e Puxa Faca (Atlético); Rocha e Joaquim Ferreira (Sampaio).
Esses mesmos defensores, ressalte-se, às vezes metiam um “tuba” na bola atendendo aos gritos dos torcedores dos seus clubes. Os gritos, a propósito, já que estou falando de expressões em desuso, costumavam ser os seguintes: “Arrasta, fulano!” Ou então: “Espoca, beltrano!”. Desse jeito. Rs.
Não esquecendo que eu grafei, umas linhas atrás, sobre uma certa “deusa branca”. Como? “Deusa Branca?” Quem seria essa tal criatura? Ela ainda existe? Se existe, onde estaria escondida? Outro dia eu conto. Mas já adianto que ela gostava demais de “beijar o véu da noiva”. Cada coisa. Kkk.