Peguei esse “Habemus” aí do título emprestado do latim. É esse vocábulo que se usa quando um novo Papa é eleito. Os cardeais se reúnem, decidem quem vai ser o próximo nome no trono de São Pedro, e soltam uma fumaça branca pelos ares. E aí a gente fica sabendo que “Habemus Papa”.
Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos isso o que aconteceu por aqui nos últimos dias para que se pudesse dizer que “Habemus Copa América” em 2021. Uma meia-dúzia de cardeais da República se reuniu com outro tanto de cartolas da CBF e o martelo bateu na bigorna.
Durante uma semana viveu-se uma incerteza: ter ou não ter. O bardo inglês Shakespeare certamente ficaria humilhado em saber o quanto uma letrinha muda tudo do “ser ou não ser” da sua frase original. Mas, enfim, os tempos são outros e o diferente sempre vem, ainda que em forma de vírus.
Teve muita gente contra e muita gente a favor da realização da Copa América. Uns diziam que poderia haver uma explosão na taxa de pessoas infectadas pelo vírus nascido nas estepes da Ásia. Outros diziam que não teria perigo, uma vez que as delegações estariam todas imunizadas e benzidas.
Esse “benzidas” que eu disse no parágrafo anterior surgiu no texto só porque a metáfora que deu start ao texto tem um fundo religioso. Só por isso. Inclusive porque eu não sei se ainda existe tanta água no país para benzer os duzentos e poucos milhões que desfilam sua glória pelas nossas periferias.
Essa discussão sobre “ter ou não ter” Copa América no Brasil, ressalte-se, não teria sentido se a vacinação dos brasileiros estivesse avançando de maneira mais célere. Veja-se que até o presente momento em que preencho estas linhas, nem 11% dos nativos receberam as duas doses.
Nos Estados Unidos, onde o governo federal entendeu a gravidade da situação e apostou na imunização em massa da população norte-americana, as máscaras já são consideradas acessórios opcionais. E então, por conta disso, os ginásios, teatros, cinemas e estádios já estão abertos para o público.
O certo é que vai ter Copa América no Brasil, a partir do próximo domingo, e a seleção aqui da casa vai estrear em Brasília, contra a Venezuela. Um duelo que, se fosse o caso de comparar a ideologia do poder vigente nos dois países, poderia ser traduzido como direita raivosa x esquerda extremista.
É por aí, galera. Habemus Papa, ainda que argentino. Habemus mitos, ainda que falsos. E Habemus Copa América, ainda que a vacina caminhe a passos de cágado. Menos de 11% dos brasileiros estão imunizados, mas quem se importa com isso? Salve-se quem puder (inclusive o Caboclo)!