Histórias de cronistas

Duas historinhas de cronistas esportivos me vieram à mente tão logo eu sentei para cometer a crônica da hora. Uma, acontecida em 1992, envolvendo o vetusto e dinâmico radialista Chico Pontes. Outra, acontecida no ano de 2011, tendo como protagonista o sul-mato-grossense Gelton Lima.

A história do Chico ocorreu por conta de uma viagem que ele inventou para entrevistar o rei Arthur, atacante acreano que recém havia se mudado para Portugal, depois de uma breve passagem pelo Clube do Remo, de Belém do Pará. O Arthur vestia, então, a camisa do Boavista, da cidade do Porto.

Nos preparativos para cruzar o Oceano Atlântico, Chico Pontes esbarrou na falta de dinheiro para dar conta da empreitada. Não era fácil. A logística era deveras complicada e o dinheiro muitíssimo curto. Aí, a saída que o Chico vislumbrou foi “correr a sacolinha” no comércio de Rio Branco.

Pede daqui, pede dali, muitas recusas e algumas concordâncias depois, eis que o cronista foi bater às portas de um comerciante do Segundo Distrito. Um dito cujo que era conhecido pela mão fechada de toda a vida. Apesar de desencorajado pelos colegas, o Chico Pontes resolveu arriscar a sorte.

O comerciante chorou tanta miséria que o Chico quase lhe ofereceu parte do que já havia arrecadado com a “sacolinha”. Mas aí, eis que o sujeito resolveu ajudar. Mandou-o esperar que ele ia “la dentro” buscar sua cota de patrocínio. Saiu da bodega e voltou com uma lata de goiabada nas mãos.

A criatura em questão entregou a goiabada para o Chico e disse-lhe que ia assistir as transmissões que o cronista ia fazer direto de Portugal para ver se ele ia falar do seu comércio. E que se o Chico não falasse nada, jamais lhe patrocinaria novamente. Eu não lembro se o Chico fez mesmo o anúncio.

Já a história do Gelton aconteceu quando o 7º BEC foi jogar com uma tribo indígena nas imediações de Guajará Mirim. O time da corporação goleou os silvícolas na primeira partida e o Gelton, que atuava como narrador, ficou em êxtase de tanto gritar gol. Gritos que ecoavam na selva.

Mas aí veio o segundo jogo e os nativos fizeram suas exigências. Uma: o jogo teria que ser ao meio-dia, com o sol a pino. Outra: a partida teria que ser disputada em 120 minutos. Mais uma: não haveria intervalo para beber água. E a última: o Gelton teria que gritar bem alto os gols lá deles.

Tudo combinado, veio o jogo e, dessa vez, o placar foi favorável aos donos da casa. Os índios golearam os militares por tantos gols a zero que até hoje ninguém sabe ao certo o placar. E o Gelton gritou tantos gols e com tantos decibéis que estourou a garganta. Por conta disso, ficou rouco até hoje.