O futebol tem uma infinidade de histórias pitorescas que raramente se tornam do conhecimento público. Ou então, ainda que os torcedores venham a saber delas, com o tempo caem no esquecimento. Vou lembrar aqui neste texto de hoje duas histórias envolvendo a famosa tática do “ferrolho”.
Para os que desconhecem essa terminologia, eu esclareço que “ferrolho” é como se chamava em tempos de outrora um sistema tático que privilegiava as ações defensivas. Um time que se reconhecia inferior a outro, tratava de botar todo mundo na frente da própria área. Ninguém no ataque!
Eu tive a oportunidade, aí pelas décadas de 1970 e 1980, de ver dois times do futebol acreano que usavam esse expediente com frequência, no caso o Floresta e o Andirá. Quando jogavam contra os chamados clubes grandes, o Andirá e o Floresta escalavam um sujeito no gol e dez na defesa.
Um certo dia, quando cheguei ao estádio José de Melo, a partida entre Floresta e Juventus estava em zero a zero, próximo ao fim do primeiro tempo, quando o normal era o Floresta, àquela altura, estar perdendo. Aí, fui perguntar ao treinador do Floresta qual era o segredo para tanta resistência.
O técnico do Floresta era o Jurandi Teles, que havia sido um atacante de bom nível da referida equipe, mas que decidira pendurar as chuteiras umas tantas semanas antes. Explicação do Jurandi: “O segredo é que eu armei um ferrolho do tipo inviolável. Hoje não passa nada pela nossa muralha.”
Veio então o segundo tempo e o Juventus, como de praxe, sapecou uma estrondosa goleada no Floresta. No fim do jogo eu fui perguntar ao Jurandi o que é que havia acontecido. Resposta do dito cujo: “Os atacantes juventinos simplesmente acharam um jeito de arrombar o nosso ferrolho.”
Essa história me fez lembrar de outra, acontecida no futebol amazonense, na década de 1960. O time do Olímpico, dirigido pelo treinador Hélio Lentz, tendo um elenco mais fraco do que os rivais, usava o mesmo expediente do Floresta acreano e, assim, costumava perder de pouco.
De acordo com o falecido historiador esportivo Carlos Zamith, de Manaus, no seu livro Baú Velho, “era difícil o adversário passar pela defesa do Olímpico. Perdia para os melhores times por escores apertados, na base de 1 a 0 ou 2 a 1, tamanha era a marcação cerrada adotada pelos jogadores”.
Um dia, num jogo entre Olímpico e Sul-América, pelo campeonato estadual, este último apresentou um centroavante chamado Martelo, descoberto na várzea. Final do jogo: 2 a 0 para o Sul-América, com gols do Martelo. Manchete do jornal no dia seguinte: “Martelo quebrou o ferrolho”!