O Independência conseguiu a façanha de vencer duas vezes no mesmo dia, nessa quinta-feira passada. Dentro de campo, valendo pelo campeonato acreano, bateu o Náuas por 2 a 0. E fora de campo, valendo pelo torneio da memória, emplacou uma bela homenagem ao ex-craque Valdir Silva.
O referido Valdir, que nasceu em Icoaraci, no interior do Pará, e que hoje mora em Manaus, talvez seja o mais acreano dos paraenses. O amor ao Acre, espaço geográfico onde ele passou a maior parte dos seus 70 anos, fica deveras evidenciado sempre que a gente leva um papo com ele.
Pelo menos foi isso que eu percebi nas últimas duas oportunidades em que nos encontramos. Uma dessas vezes, em Manaus, em 2017, onde ele me levou para almoçar uma banda de tambaqui. E a outra em Fortaleza, em 2018, quando eu retribui a gentileza com uma fritada de camarões.
Morar na capital amazonense foi uma espécie de necessidade familiar. Os filhos mudaram para Manaus e Valdir acabou seguindo o mesmo caminho, depois que se aposentou do serviço público. “Mas sempre que posso estou ao Acre, onde tenho os melhores amigos”, disse-me ele.
No que diz respeito à carreira futebolística, pode-se dizer que o Valdir foi um desses gênios precoces que brotam nos confins do Brasil. Tanto que mal completados 15 anos, em 1963, ele já brilhava com seus dribles e arrancadas no ataque do time principal do Pinheirense da sua terra natal.
De 1963 a 1968, Valdir desfilou sua arte por gramados paraenses com as camisas de vários clubes. Além do já citado Pinheirense, outros três times contaram com a sua bola: Paysandu (juvenil), Liberato de Castro e Sporting Belém. Depois disso, ele tratou de seguir a estrela do ocidente.
E então, veio uma estada de sete anos (até 1974) no recém criado profissionalismo amazonense, onde Valdir Silva defendeu as cores do Sul-América, do São Raimundo, da Rodoviária e do Olympico. De acordo com o ex-craque, “o futebol do Amazonas vivia uma época exuberante”.
Em 1975, Valdir Silva, sempre seguindo a rota do oeste, trocou de ares outra vez. O Independência precisava de um atacante para substituir o ídolo Rui Macaco, que resolvera mudar de clube. E aí Valdir foi indicado pelo meia Augusto, um dos muitos amazonenses que jogava no Acre.
Deixar o profissionalismo amazonense pelo amadorismo acreano parecia um paradoxo. Mas o dinheiro oferecido compensava. Três ou quatro vezes mais do que Valdir ganhava em Manaus. Ele topou, se apaixonou pelo Acre e escreveu uma bela história no Tricolor. Virou ídolo para sempre!