Honestidade

Honestidade não é um produto assim fácil de ser encontrado no espaço territorial brasileiro nos dias correntes. Aliás, pra falar a verdade, o fenômeno nem é tão recente como alguns mais apressados ou ingênuos podem pensar ao ver as notícias diárias. A questão vem de bem mais longe.

É possível mesmo dizer que a prática da desonestidade está no próprio DNA da nação. Com aquela turma de degenerados enviados pelos portugueses para colonizar a então chamada Ilha de Vera Cruz, só podia dar mesmo nessa mania dos tupiniquins de querer levar vantagem em tudo.

Resumo da ópera: corrupção generalizada, dinheiro escorrendo por entre os dedos da “canalhada”, ninguém acreditando no papo dos sujeitos dos poderes da República, a descoberta de novos desfalques todos os dias, cadeias repletas de gente graúda… Enfim, uma dança de demônios alados!

Mas esse preâmbulo aí de cima só me ocorreu por causa de uma situação no fim de semana passado que deu o que falar no país do futebol. Justamente a honesta atitude de um jogador do São Paulo que evitou a punição de um adversário, advertindo o árbitro por uma interpretação ruim.

Inusitado o gesto do jogador são-paulino, principalmente pelo fato de que o tal adversário seria penalizado e ficaria de fora da partida seguinte, decidindo uma vaga para a fase posterior do campeonato estadual, contra o mesmo São Paulo. A malandragem que permeia o país quedou-se chocada!

No fritar (eu deveria dizer “frigir”, mas esses verbos da terceira conjugação nunca se deram bem comigo) dos ovos, teve gente que não entendeu nada, por não estar acostumada com isso, e teve quem aplaudisse a boa ação do jogador que atraiu para si a responsabilidade pela má jogada.

Isso de se acusar por um mal feito, no mundo do futebol, evitando que o árbitro da partida cometa um erro, praticamente não existe. Eu mesmo não acreditaria se não tivesse visto. O usual, tanto pela formação do povo brasileiro quanto pela essência do próprio jogo, é o engodo e a fraude.

Aliás, a última notícia que eu soube de um jogador que se acusou por um “pecado” cometido em campo, em prejuízo do seu time, foi quando de uma partida jogada ainda no início do século XX: o zagueiro Belfort Duarte avisou ao árbitro que havia cometido um pênalti. Época romântica!

Provavelmente a atitude do jogador do São Paulo não vai ser repetida tão cedo. Pode ser até que ele, protagonista desse raro ato de honestidade no futebol, tenha levado alguma bronca nos bastidores. De qualquer forma, o gesto dele deixa a gente com a impressão de que nem tudo está perdido!