A imprensa brasileira sempre colocou a Alemanha como favorita ao título da Copa. E acertou! Mas a mídia foi mal na avaliação do Brasil para sediar o megaevento e meia-boca na hora de dizer sobre os rumos da seleção brasileira durante a competição.
A mídia nacional até que tentou consertar durante a competição dos deslizes que teve pré-evento com relação à infraestrutura para receber o torneio, mas já era tarde.
Ela mostrou incapacidade de cruzar dados básicos, como, por exemplo, que os aeroportos não teriam tanto caos assim já que os voos de negócios no Brasil simplesmente não existiriam – e 80% deles é que movimentam os terminais aeroportuários. Portanto, os turistas poderiam ocupar facilmente essa janela. A conta era simples e as próprias companhias falavam disso desde o início do ano.
Achava que não teria hospedagem para todo mundo, quando, na verdade, o problema maior eram os preços proibitivos cobrados pelos hotéis, que acabaram abaixando o valor da diária antes do Mundial.
Com relação à segurança, não conseguiu apontar com clareza quais seriam os riscos reais para os turistas. Preferiu colocar no mesmo saco a violência produzida em comunidades controladas pelo tráfico e pela banalidade que nem o Estado nem o turista tem o menor interesse de ir – embora o Estado tivesse obrigação disso.
Sobre os estádios, era claro que seriam entregues a tempo porque se tratavam de projetos mais óbvios. Sem arenas não tem Copa. Nesse item até quase acertou apontando os problemas deles, apesar de prontos, pouco antes da realização dos jogos.
Também quase acertou ao relacionar o descalabro dos projetos de mobilidade inconclusos nas cidades-sede, mas não conseguiu separar o que era discurso eleitoreiro e o que de fato seria importante fazer para a Copa e o seu legado.
O resultado da Alemanha sobre a Argentina na finalíssima do Mundial é fruto de um trabalho longo e árduo, desde a desclassificação prematura na Eurocopa de 2000. A mídia sabia disso. Resolveu no final da Copa colocar o assunto na capa dos portais de notícias e nos jornais, até para mostrar o caminho que a seleção brasileira pode tomar para voltar a vencer.
Já a cobertura do dia a dia da equipe do Brasil foi mais uma vez ufanista, com pouco apontamento crítico e muito oba-oba. E veio a primeira partida em que foi mal, a segunda pior ainda e na terceira, jogou com um cachorro morto chamado Camarões. Nas oitavas, quase foi eliminado. Nas quartas, jogou com uma amedrontada Colômbia (não sei de quê!).
Depois, vieram às falhas contra a Alemanha e a Holanda de um time medíocre, de jogadores idem, e de um esquema tático arcaico. Descoberto isso ao vivo, sem cortes, resolveu dar o nome aos bois. E sair do ridículo discurso “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.
O jornalismo tupiniquim só se salvou na cobertura do chamado “servição”, de como chegar ao estádio e onde assistir, o movimento das torcidas, os boletins de ocorrência corriqueiros de furtos, brigas entre torcedores e cambistas – talvez tenha se saído bem aqui porque se livrou de ideologias e pieguices.
Seria bom a imprensa brasileira repensar a cobertura da Copa no Brasil. Vem aí os Jogos Olímpicos Rio 2016. Quem sabe passamos a errar menos para os nossos leitores, telespectadores e ouvintes.
Augusto Diniz