Acabou mais uma Olimpíada. Os deuses do esporte olímpico se recolheram ao seu aconchego. Vão dormir pelos próximos três anos. Só voltarão a dar as caras em 2024, na capital da França. Enquanto isso, os competidores que tratem de gemer e suar para melhorar as suas marcas.
Aumentar o número de medalhas a cada Olimpíada é o principal objetivo de cada país. Alguns investem nisso e dão condições aos seus atletas, incentivando-os com acompanhamento qualificado e remuneração condizente. Outros olham enviesado e não dão a mínima para ninguém.
Pra esses últimos, uma medalhinha a mais nos jogos seguintes já é motivo de vivas e urras, ufanismo delirante. É o caso do Brasil, que aumentou em duas o número de medalhas obtidas entre 2016 e 2021. Dezenove em 2016 e vinte e uma em 2021. Duas a mais. “É nóis na fita!”
O delírio pela experiência de coisas irreais é o sonho dos brasileiros. Cada vez que se aproximam novos jogos, a gente se pega torcendo pelos nossos corredores, arremessadores, atiradores, chutadores, cortadores e, ultimamente, surfistas e skatistas. O deserto do real, porém, é outra vibe.
As diversas criaturas que ocupam os cargos públicos aqui nessa terra de Macunaíma, Pererê, Bento Carneiro e demais parças, via de regra, só querem mesmo é permanecer no poder, por cima da carne seca. A ordem é tratar primeiro do próprio pirão quando a farinha for pouca. É desse jeito.
A coisa mais bela desses sujeitos é o próprio umbigo. Quem quiser, aí dos paturebas, que bote uma prancha sob os pés e deslize na crista da sua onda. Ou então, use rodinhas para superar os obstáculos do caminho. Ou, ainda nessa linha, que esmurre pontas de facas para nocautear os adversários.
Não tenho notícia de que algum dos nossos heróis olímpicos tenha sido recebido por uma autoridade de Brasília. Penso que essa é a maior prova de que ninguém poderoso esteja nem aí para o esporte brasileiro. Inclusive porque os caras parecem estar muito ocupados trocando ofensas e bravatas.
A verdade é que o país passa hoje por uma espécie de vale tudo político/ideológico: mascarados de um lado e negacionistas do outro. Pra que homenagear um atleta vencedor olímpico se o que o mundo precisa é de fake news reiteradas, encaminhadas por grupos de avatares e tropas de robôs?
Encerrados dentro de si mesmo, tateando com os olhos fechados na mais absoluta escuridão, à deriva num oceano de indiferença, os atletas olímpicos brasileiros avançam rumo um ponto futuro indefinido. Mas Paris é logo ali e as águas do rio Sena continuam correndo para o canal da Mancha!