“Nunca antes na história deste país” (onde e quando foi mesmo que eu ouvi essa frase?) o futebol brasileiro teve tantos técnicos estrangeiros comandando clubes da primeira divisão como nesse ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2020. Eles somam quatro, entre os 20 disputantes.
O português Jorge Jesus continua no comando do Flamengo. A ele se juntam, como adversários, o também português Jesualdo Ferreira (no Santos), o argentino Eduardo Coudet (no Internacional) e o venezuelano Rafael Dudamel (no Atlético Mineiro). Vinte por cento do total dos clubes.
Essa invasão não é despropositada. Ela decorre do bom trabalho do Jorge de Jesus, que atropelou todo mundo no campeonato brasileiro, conquistou a Copa Libertadores da América e levou o rubro-negro carioca à finalíssima do Mundial de Clubes, contra os lordes ingleses do Liverpool.
Sim, essa invasão decorre também do ótimo trabalho do argentino Jorge Sampaoli, que levou o Santos ao vice-campeonato brasileiro. Um trabalho, ressalte-se, na minha opinião melhor até do que o do português, levando-se em conta que o material humano à sua disposição era inferior.
Então, nós brasileiros, que já tínhamos importado (e ainda importamos) quase tudo do resto do mundo, desde o petróleo árabe até os iphones norte-americanos, passando pelos cigarros bolivianos e pelas camisinhas chinesas, agora também estamos importando técnicos de futebol.
É natural do ser humano seguir exemplos que deram certo em tempo recente e esquecer experiências anteriores. Digo isso porque, no meu entender, o fato de não ter nascido no Brasil não credencia ninguém a chegar aqui e ter sucesso. Muitos técnicos estrangeiros já fracassaram por aqui.
Enquanto escrevo, me lembro de três deles: o colombiano Juan Carlos Osório, que dirigiu o São Paulo em 2015; o argentino Ricardo Gareca, que dirigiu o Palmeiras em 2014; e o uruguaio Diego Aguirre, que esteve no Interacional (2015), no Atlético Mineiro (2016) e no São Paulo (2018).
As circunstâncias que determinaram o trabalho de pouco sucesso desses treinadores são as mais variáveis. Penso que a maior delas, entretanto, decorreu dos jogadores à disposição. Não adianta um sujeito saber tudo de tática, técnica e motivação se não tiver em mãos um material qualificado.
O Flamengo gastou rios de dinheiro para montar o time. Isso ajudou muito o sucesso do técnico Jesus. Esse sucesso deve ser dividido com a diretoria do clube. Como diria Vicente Matheus (antigo dirigente corintiano), eu acho que essa invasão estrangeira pode ser “uma faca de dois legumes”.